2022-06-27 02:15:33
Santo Agostinho (354-430 d.C.)
- I Homilia (Cap. 1) sobre o Apocalipse
Comentário ao Apocalipse de São João
1. Lemos a revelação feita pelo apóstolo João. Vamos explicar o seu sentido místico, com o auxílio de Deus.
Mostra-se aos nossos ouvidos a revelação de Jesus Cristo; os nossos corações vão conhecer os arcanos celestes.
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para manifestar aos seus servos, isto é, para mostrar as coisas que devem suceder em breve e que ele deu a conhecer enviando-as pelo seu anjo ao seu servo João.”
João, “graça de Deus” no sentido etimológico, revelou-as às sete Igrejas que estão na Ásia.
2. A Ásia simboliza a exaltação, o gênero humano. As sete Igrejas da Ásia e os sete candeeiros devem ser estudados com precisão de sentido.
Foi neste mundo que dispensou às Igrejas, isto é, a nós, pelo seu servo João, a graça septiforme.
“Graça e paz vos sejam dadas por Deus Pai e pelo Filho do Homem, por Cristo.”
3. O Filho do Homem, bem como os sete candeeiros e as sete estrelas, simbolizam a Igreja com a sua cabeça que é Cristo.
João disse ¹ que ele estava “cingido pelos seios de uma cinta de ouro.”
O cingido representava o Cristo Senhor. Os dois mamilos são os dois Testamentos. Recebem do peito do Senhor e Salvador, como de fonte perene, a virtude de nutrir o povo cristão, em ordem à vida eterna.
4. A cinta de ouro é o coro formado pela multidão dos santos. Assim como se liga o peito com a cinta, assim a multidão dos santos adere a Cristo, e abraça, como dois mamilos, os dois Testamentos. Os santos nutrem-se deles como de dois seios.
5. “A sua cabeça e os seus cabelos eram cândidos como a lã branca e como a neve.”
Os cabelos brancos figuram a multidão de purificados, dos neófitos, ao saírem do batismo. Falou a lã, porque eles são ovelhas de Cristo.
6. Falou de neve, porque, assim como a neve desce espontaneamente do céu, assim a graça batismal advém sem méritos antecedentes.
Os batizados são a Jerusalém que todos os dias desce do céu, porque é do céu que vem a graça que purifica dos pecados, e a une com Cristo, cabeça eterna, esposo celeste.
Pelo contrário, diz-se que a besta sobe do abismo. O povo mau nasce do mau povo.
Jerusalém desce pela humildade, e é exaltada; a besta, o povo, soberbo, sobe arrogante, e é precipitado.
7. “Os seus olhos eram como chama de fogo”.
Nos olhos representou os preceitos de Deus, como está escrito: “A tua palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor; a tua palavra é inflamada” (Sl. 118, 105, 140).
8. “Os seus pés eram semelhantes ao latão fino quando está em fornalha ardente”.
Nos pés em fogo, vê-se a Igreja. Quando estiver iminente o dia de juízo, ela há de ser atormentada com inúmeras tribulações, e provada pelo fogo.
Os pés são a última parte do corpo, e João disse que os pés estão em fogo. É a Igreja, que nos últimos tempos será atormentada como o ouro na fornalha.
Quem bem repara, reconhece que já se verifica isto mesmo, na prática das iniquidades sem número.
Menciona intencionalmente o latão fino, mistura de bronze e de fogo. Depois de preparado com grande trabalho, chega a tomar a cor do ouro.
Assim a Igreja. As tribulações e os sofrimentos imprimem nela maior pureza.
Na cinta de ouro que cerca o peito pode ver-se a ciência espiritual e o sentido da pureza da Igreja.
9. “Da sua boca saía uma espada de dois gumes”.
A espada significa Jesus, que primeiro deu ao mundo o conhecimento da lei por meio de Moisés, e agora dá-nos os bens do Evangelho.
Profetizou-o também Davi dizendo: “O Senhor falou uma vez, e eu ouvi estas duas coisas” (Sl. 51, 12). As duas coisas são os dois Testamentos, Novo e Antigo, conforme o tempo. São eles a espada de dois gumes.
10. “A sua voz era como a voz de muitas águas”.
As águas em abundância são o povo. A voz é a pregação dos apóstolos.
Acima disse que os “seus pés eram semelhantes ao latão como fundidos na fornalha”.
Continua na sessão de comentários, . . .
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