2022-07-11 01:30:14
10 de JULHO
A Ceia do Senhor
Podemos distinguir três ceias de Cristo: sacramental, espiritual e eterna.
Da primeira se diz no Apocalipse: “Bem-aventurado os que foram chamados ao festim das bodas do Cordeiro” (Ap. 19, 9). Verdadeiramente são bem-aventurados, no presente pela graça, e no futuro pela glória. “Todos os bens me vieram juntamente com ela” (Sb. 7, 11). A isto acrescenta a Glosa: “Aquele que recebe a Cristo no coração percebe a noção de todas as coisas, este tem aqui igualmente a virtude e a graça, e no futuro a vida eterna”. Esta é a ceia na qual lavou Cristo os pés de seus discípulos, isto é, a parte afetiva de nossa alma dos pecados veniais, porque neste sacramento se verifica a transformação do homem em Cristo, pelo amor. E porque os pecados veniais são contrários ao fervor do amor, fervor que é excitado neste sacramento, por isso se perdoam, em consequência, os pecados veniais. E assim explica São Bernardo: “A alma se embriaga de celestial doçura no sacramento do altar, o pecado venial é destruído e o homem se robustece na graça”.
Da segunda se diz também no Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato” (Ap. 3, 20), às portas fechadas do coração, segundo a Glosa; “se alguém ouve a minha voz, e me abrir a porta, entrarei nele, e cearei com ele, e ele comigo, isto é, como se entende pela Glosa: “me deleitarei em sua fé e em suas obras”. Esta ceia está expressa misticamente no Evangelho de São João, onde se diz: “Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia. . . e deram-lhe lá uma ceia. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele” (Jo. 12, 1-2). Pelo qual, explica Alcuíno, misticamente a ceia do Senhor é a fé da Igreja, que age por amor. Marta serve com fé, quando a alma executa as obras de sua devoção. Lázaro é um dos que estavam sentados, quando aqueles que ressuscitaram à justiça depois da morte dos pecados, juntamente com os que permaneceram na justiça, regozijam-se da presença da verdade e se sustentam com os dons da graça celestial. E bem se diz em “Betânia”, que significa “casa de obediência”.
Da terceira ceia diz o Senhor em São Lucas: “Um homem fez uma grande ceia” (Lc. 14, 16), o que a Glosa explica assim: “porque nos preparou a saciedade da doçura interior”. Esta é a ceia na qual João, isto é, todo o escolhido em quem reside a graça, está sentado, livre do estrépido da vida presente; porque, como diz São Bernardo: “Ali está o descanso dos trabalhos, a paz sem inimigos, a amenidade da novidade, a segurança da eternidade, a suavidade e a doçura da visão de Deus”.
— De Humanitate Christi
— AQUINO, Sto. Tomás de.
Meditações para o Tempo Comum (depois de Pentecostes).
Ecclesiae Editora, 2020.
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