2022-06-17 11:43:57
OGloboMartín Fernandez: domínio dos paulistas impõe desafio à liga de clubes
Com um terço do Campeonato Brasileiro disputado, só times
paulistas ocuparam a liderança, e isso não vai mudar após a rodada do final de
semana, a 13ª. Os cinco clubes de São Paulo estão entre os oito melhores na
tabela de classificação. Se a situação for mantida até novembro, todos estarão
na Copa Libertadores do ano que vem, o que significa acesso às premiações
milionárias (e em dólar) da competição continental, além de tornar a temporada
seguinte mais atrativa para torcedores — portanto mais dinheiro de bilheteria —
e um destino mais sedutor para jogadores no mercado de transferências.
Com exceção do Paulista, que concentra nove times das Séries A e B do
Campeonato Brasileiro e conseguiu se viabilizar comercialmente, todos os outros
campeonatos estaduais do país deixaram de ser relevantes tanto do ponto de vista
esportivo quanto financeiro. Não há desafio técnico, não há premiação
interessante. Só não são ignorados como deveriam ser porque ainda ocupam um
espaço nobre no calendário. Não concorrem com os torneios que realmente importam
e são pouco prejudicados pelas datas Fifa, períodos em que as seleções se reúnem
e os clubes são obrigados a ceder seus jogadores.
Principais culpados pelo calendário bizarro do futebol
brasileiro, os estaduais agora também se transformaram num fator importante de
desequilíbrio — tanto esportivo quanto financeiro. É impossível ignorar essa
diferença no momento em que se debate maneiras de fundar uma liga para
administrar o Campeonato Brasileiro a partir de 2025 (já que há contratos
vigentes até 2024). Há perguntas que ainda não foram respondidas por quem está
liderando essas discussões.
A liga que pretende substituir a CBF na organização da Série A vai durar o
ano inteiro? Os estaduais vão continuar ocupando um período exclusivo do ano? Os
times paulistas, que rapidamente aderiram ao movimento para criação da liga, vão
topar abrir mão de um campeonato estadual que é rentável para eles? E os clubes
dos outros estados, o que vão fazer? Vão continuar jogando seus estaduais
deficitários enquanto os paulistas se testam contra rivais mais fortes, enchem
os cofres e disputam as competições nacionais com mais recursos? Qual será o
papel das federações estaduais — especialmente a paulista — nesse novo arranjo
do futebol brasileiro? Por enquanto, todas as respostas para essas perguntas são
variações de “isso será discutido no futuro”. Talvez seja hora de trazer o
debate para o presente.
Violência nossa de cada diaNo dia 7 de março deste ano, sob efeito dos atentados sofridos pelos
profissionais do Grêmio e do Bahia, a CBF anunciou a criação de uma “comissão”
para discutir violência nos estádios. Desde então os casos de agressões contra
trabalhadores do futebol se tornaram mais frequentes e mais graves. Claro que a
escalada na violência não é culpa da confederação, mas a cartolagem vai ter que
ir além da retórica. Com ajuda da imprensa esportiva, o esgoto das redes sociais
normalizou a ideia de que jogadores, técnicos e árbitros merecem ser insultados,
ameaçados e agredidos. Cedo ou tarde vai morrer alguém. E haverá quem
aplauda.
@Canalnoticiasglobo
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