2022-05-31 11:30:45
OGloboMansur: Do Rio a Paris, jovens postos à prova
Goleiro do Flamengo, Hugo Souza, de 23 anos, não estará na próxima Copa do
Mundo. Vini Jr, salvo um indesejável acidente, estará. Hugo ainda não foi
cogitado num superclube europeu, onde Vini está. Hugo ainda não teve a chance de
jogar uma partida de Liga dos Campeões, enquanto Vini acaba de marcar o gol
decisivo de uma final com a camisa do Real Madrid. Tudo isso para mostrar o
quanto os dois vivem realidades distintas mas, neste fim de semana, escreveram
histórias que se unem num ponto: servem para humanizar jogadores de futebol. Ou,
ao menos, nos lembrar que por baixo dos uniformes há jovens que reagem, cada um
à sua maneira, a desafios e adversidades.
Vini tinha 18 anos recém-completados quando pisou na
Espanha sob uma mistura de desconfiança, ceticismo e até preconceito. Mas algo
ainda mais duro o esperava. Chegava ao maior clube do mundo sob uma exigência
que ignorava a sua idade: precisava provar, em bases semanais, por que o Real
Madrid se comprometera, desde os seus 16 anos, a pagar 45 milhões de euros por
ele. Era como se o clube o recebesse com uma camisa com nome, número e etiqueta
de preço.
O gol que sentenciou a 14ª Liga dos Campeões
da história do Real encerra uma etapa na história de Vini na Europa. Há uma
série de méritos no que ele fez nas quatro temporadas que já completou na
Espanha, em especial sua evolução como jogador: seu entendimento do jogo, seu
trabalho defensivo, seu passe e sua finalização, ponto em que foi mais cobrado.
Mas o mais valioso foi que Vini chegou num ambiente estranho, num clube de
dimensões globais e sob uma expectativa brutal para alguém mal saído da
adolescência, sem que perdesse o traço mais notável de sua essência: o desejo de
se expressar com a bola, a coragem, a espontaneidade. Jogou sempre todas as
fichas, ousou nos dribles mais difíceis, mesmo que a perda da bola reforçasse o
coro dos céticos. A adversidade não o tolheu.
Mas seres humanos são personalidades distintas. E com
Hugo Souza o roteiro foi outro. Viveu os dois lados da moeda, os dois extremos,
com uma rapidez difícil de administrar. Como Vini, termina sendo outro retrato
de como o futebol que oferece o mundo, também sabe ser cruel.
Bastou um jogo contra o Palmeiras, em meio a um surto de
Covid que provocou baixas em série no Flamengo, para Hugo ganhar a chance de ser
titular e ser exaltado como nova joia. Aconteceu em 2020, menos de dois anos
antes de uma dura reviravolta. Hugo foi devolvido ao posto de titular
rubro-negro em meio a expectativas altas e não cumpridas pelo time todo. E,
pior, tendo como pano de fundo para suas escalações uma controvérsia entre Diego
Alves, o titular renomado, e o técnico Paulo Sousa. Um erro, dois, três, e lá
estava Hugo como centro das atenções.
Para ele, a adversidade foi uma dura inimiga, capaz de
abatê-lo. Hugo pode não ser o melhor goleiro do Brasil, mas tampouco pode ter
sua capacidade medida pelas atuações das últimas semanas. O Fla-Flu, clássico em
que o Flamengo deve a ele os três pontos, ajuda a mostrar que há um meio termo,
mas também que há talento e um jovem a ser respeitado. Mas antes que se aceite a
visão ponderada, o futebol prefere folclorizar, desqualificar. Jovens são postos
na berlinda, como o próprio Vini experimentou antes mesmo de se testar na
Europa. Alguns se expressam, matam a pressão no peito e jogam como se estivessem
no quintal de casa. Outros, se inibem. Afinal, são humanos.
Cada um à sua forma e em contextos absolutamente
diferentes, Hugo e Vini certamente vão lembrar para sempre do último fim de
semana. O ideal é que nós também lembremos na hora dos nossos julgamentos.
ContrastesÉ curioso um Fla-Flu em que o vencedor sai com piores sensações do que o
perdedor. Longe de ser um time pronto, o Fluminense perdeu um jogo em que criou
muito mais, exibiu padrões com bola, mas pagou por erros do lado esquerdo de sua
[...]
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