2022-05-13 17:12:48
O que pensam os marxistas sobre o 13 de maio?Lélia Gonzalez: “O 1º de maio tem a ver com o 13 de maio. Enquanto trabalhadora superexplorada de hoje, a mulher negra se sente com todo o direito de perguntar: “Afinal, que abolição foi essa que (…) a gente continua praticamente na mesma situação?”. Na verdade, o 13 de maio de 1888 trouxe benefícios pra todo mundo, menos para massa trabalhadora negra. Com ele, iniciava-se o processo da marginalização das trabalhadoras e trabalhadores negros. Até aquela data, elas e eles haviam sido considerados bons para o trabalho escravo. A partir daquela data, passaram a ser considerados ruins, incapazes para o trabalho livre. (…) foi justamente o Movimento Unificado que propôs que passemos a considerar o 13 de maio como o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. Dentre outras razões, porque ao comemorarmos o 1º de maio, a gente não pode deixar de pensar na situação de desigualdade e inferiorização em que o racismo mantém o trabalhador negro e, sobretudo, a trabalhadora negra, desde maio de 1888”. Lélia Gonzalez em “E a trabalhadora negra, cumé que fica?”
Clóvis Moura: “os políticos abolicionistas conseguiram a hegemonia na dinâmica da luta de classes e os escravos condicionavam sua ação as determinações desse grupo. Alguns deles, como os Caifases, em São Paulo, o Clube Cupim em Pernambuco, os Bastilhas de Carlos Lacerda, em Campos, Província do Rio de Janeiro, tinham até um discurso radical, pois se propunham a libertar os escravos por todos os meios. E é aí que está a diferença. Na primeira fase da escravidão, até aproximadamente 1850, os escravos não eram libertos por outros grupos político porque eram o sujeito da ação histórica. Na segunda fase, esses grupos radicais são os detonadores e controladores dos níveis da ação, e os escravos são o objeto dessa ação política", Clóvis Moura, em “Dialética Radical do Brasil Negro”
Florestan Fernandes: “Como outras manifestações históricas similares, o 13 de maio foi uma revolução social dos brancos, pelos brancos e para os brancos dos estratos sociais dominantes. Ele dividiu os de baixo e compeliu os negros a rolar até os últimos degraus da exclusão, do desespero ou do trabalho que todos repeliam. Isso obrigou os negros a lançarem-se à conquista do seu 13 de Maio, a uma nova Abolição, que passou ignorada, mas os colocou na condição de agentes históricos retardatários. Eles abriram para si as portas da sociedade de classes, penetraram no mercado pelas vias mais duras e começaram a classificar-se, através de um processo histórico lento, prolongado e oscilante, como trabalhadores livres no sentido pleno do conceito.” Florestan Fernandes em “Significado do Protesto negro”.
Décio Saes: “O episódio da Abolição não se limita a ocupar um lugar importante no processo de cessação do trabalho escravo; ele apresenta, também, uma dimensão político-institucional, que nos incumbe qualificar agora. O ato estatal abolicionista configura-se, objetivamente, como um ato político de desorganização (ou desestruturação) de um tipo histórico de Estado - o Estado escravista moderno - e, consequentemente, como elemento detonador de um processo de reorganização (ou reestruturação) do Estado burguês, no Brasil, em termos burgueses. Em suma, a Abolição delineia-se, simultaneamente, como ação destruidora do Estado escravista moderno e como ação instauradora do Estado burguês” Décio Saes em “A Abolição da Escravidão como Etapa Fundamental da Transformação Burguesa do Estado no Brasil”.
Jacob Gorender: “(...) considero a extinção das relações de produção escravistas, no Brasil, um evento revolucionário. Ou, dito de maneira mais taxativa: a Abolição foi a única revolução social jamais ocorrida na História de nosso País. (...) Pode-se objetar: mas a Abolição deixou o latifúndio intocado. É verdade. E não poderia ser de outra maneira, por dois motivos principais: 1º) A possibilidade de efetivação da reforma agrária seria concebível somente se já existisse um movimento camponês capaz de lutar por ela em aliança com o movimento abolicionista.
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