2021-11-14 01:30:48
Homilia IV (Ezequiel, Cap. 1, vers. 10-12)
1. O Espírito Santo, que enchia a alma do profeta, fê-lo descrever de uma maneira admirável esses quatro animais com suas asas, a fim de que essa descrição nos fizesse melhor ver que eles são verdadeiramente a figura dos quatro evangelistas e que a palavra divina não deixa em nosso espírito nenhum lugar para a dúvida.
Eis como esse santo homem fala: “O seu semblante era assim: rosto de homem pela frente e face de leão à direita, em todos os quatro, face de touro à esquerda, em todos os quatro, e face de águia nos mesmos quatro”. Basta-nos abrir o livro dos santos evangelhos para entender que estes quatro animais misteriosos nos representam perfeitamente os quatro evangelistas. Quando virmos que São Mateus começa seu evangelho pela geração humana do Filho de Deus, estaremos totalmente de acordo em que, com razão, ele representa a nós sob a figura de um homem. Por sua vez, São Marcos nos é representado sob a figura de um leão, pois começa seu evangelho com a pregação de São João Batista clamando no deserto; e que o touro, que é uma vítima ordinária, convém perfeitamente a São Lucas, que começa pelo sacrifício que oferece Zacarias; enfim, a águia nos representa admiravelmente São João, que começa com essas palavras: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”; elevando o seu olhar diretamente para a própria substância da divindade, ele é como uma águia que fixa os seus olhos no sol. Uma vez que todos os eleitos são membros de Jesus Cristo, nosso Redentor, dos quais Ele é o chefe, nada impede que possamos aplicar a esta divina cabeça aquilo que convém aos seus membros.
O Filho único de Deus se fez verdadeiramente homem e quis ser oferecido por nós como uma vítima no sacrifício de nossa redenção.
Ele apareceu, também, forte como leão, ressuscitando a si mesmo por sua virtude. O leão mantém os olhos abertos enquanto dorme e Jesus Cristo também foi semelhante nisso, pois, enquanto sua humanidade dormia na morte, Ele manteve os olhos abertos e sua divindade imortal permaneceu sempre vigilante.
Enfim, ao subir ao céu após a Ressurreição, pode-se dizer que foi semelhante a uma águia que se eleva acima de tudo.
Todas essas figuras são semelhantes a nós, que nascemos homens e morremos vítimas como o touro e, ressurgindo como o leão, ascendemos ao céu como uma águia.
Uma vez observado que os quatro animais acima descritos são figuras dos quatro evangelistas, e também figuras de todos os perfeitos, resta-nos observar de que maneira cada eleito é representado sob estas figuras.
– São Gregório Magno,
Homilias sobre Ezequiel – Homilia IV, § 1.
Ecclesiae Editora, 2021
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