2022-08-09 16:44:39
IPCA (julho/2022) Resultado: -0,68% MoM (10,07% YoY)
Expectativa do mercado: -0,65% MoM (10,07% YoY)
Anterior: 0,67% MoM (11,89% YoY)
O IPCA de julho registrou crescimento de -0,68 % MoM (10,07% YoY), a maior deflação para o período desde a implementação do RMI. Vale destacar que o Índice de Difusão passou de 66,6% para 62,86%, bem acima da difusão média para o período, assim como verificado nos últimos 12 meses. Outra informação importante é que a difusão – exceto alimentação no domicílio está mais elevada do que a própria difusão. Isso nos mostra que a disseminação inflacionária na economia é muito elevada e tende a dificultar o trabalho do BCB.
Os preços administrados apresentaram deflação de 4,35% MoM após alta de 0,48% MoM em junho. Combustíveis automotivos e energia elétrica foram os itens que trouxeram as contribuições mais expressivas (-1,13 p.p. e -0,28 p.p. respectivamente). Se esses itens não tivessem apresentado deflação ou inflação (excluídos os impactos do PLP 18), o IPCA de julho seria positivo em 0,69% MoM. A aprovação do PLP 18, que aconteceu no dia 19/06, foi a grande responsável pelo movimento deflacionário do grupo e do índice cheio.
Os preços livres desaceleraram 0,09 p.p. (de 0,74% MoM em junho para 0,65% MoM em julho). Apenas bens não duráveis apresentaram inflação mais elevada do que no mês anterior (de 0,35% MoM para 0,72% MoM). O grupo de bens duráveis passou de 0,69% MoM em junho para 0,1% MoM em julho, bens semiduráveis passaram de 1,41% MoM para 0,46% MoM, e, o grupo de serviços, de 0,9% MoM para 0,8% MoM. Da mesma forma como vimos em outros meses, a inflação de bens não duráveis, que abarca majoritariamente os alimentos, ainda traz um resultado muito ruim para o período, que sazonalmente é positivo e costuma apresentar inflação muito baixa ou até mesmo deflação. Diferentemente do que vimos em outros meses, no entanto, os serviços e os bens duráveis, que contemplam itens mais supérfluos e mais relevantes para a condução da política monetária, desaceleraram, com destaque para bens duráveis, amplamente composto por bens industriais, monitorados pelo BCB.
Quando analisados sob a ótica de comercialização, fica claro que a contribuição internacional cai fortemente mês após mês. Os bens comercializáveis apresentaram inflação de 1,42% em abril, de 1,04% MoM em maio e de 0,48% MoM em junho e 0,24% MoM em julho. Ou seja, a contribuição inflacionária advinda do mercado internacional é cada vez menor e joga a favor da desaceleração da inflação doméstica. Na contramão, no entanto, está justamente os bens não comercializáveis, cuja oferta e demanda ficam restritas ao mercado doméstico. Esse grupo mostrou aceleração inflacionária expressiva no penúltimo mês, quando passou de 0,66% MoM para 0,94% MoM, e manteve-se praticamente inalterado em julho, com inflação de 0,96% MoM. Isso significa que, mesmo com o aperto monetário brasileiro tendo começado mais cedo do que nos demais países, a inflação custa a responder positivamente. O represamento da demanda sobre os serviços que vimos durante a pandemia pode explicar parcialmente a resiliência da inflação de bens não-comercializáveis.
A característica da inflação é melhor do que vimos nos meses anteriores, mas não é boa. O arrefecimento mais expressivo é gerado no mercado internacional ou é gerado por medidas legislativas, e, em magnitude muito menor, por conta da eficácia da política monetária. O índice de difusão nos mostra que existe um nível de contaminação inflacionária excepcionalmente elevado na economia doméstica mesmo extraído o efeito do grupo de alimentação no domicílio, que é amplamente afetado por movimentos climáticos. Além disso, é esperado que, com os novos estímulos fiscais que começaram a ser pagos em agosto (auxílio e vouchers), a inflação volte a acelerar, e, diante de uma economia com grande nível de dispersão inflacionária e com inflação de 2 dígitos por 11 meses consecutivos, há riscos reais de desancoragem das expectativas no curto e médio prazo, com ônus sobre o longo prazo.
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