2021-09-23 15:53:54
A coluna dessa semana é um convite aos pais:
COLOCA NA BALANÇA E PENSA...
Matheus, um garoto de 12 anos, cursa o 7º ano numa escola particular. Tem ipad, iphone, xbox one. Tem um quarto só pra ele, com tv, ar condicionado e notebook. Tem marcas de roupas e tênis preferidos. Não usa qualquer coisa não. O pai do Matheus trabalha viajando, chega ao final das sextas-feiras... Felizes sextas-feiras que sempre trazem a presença e presente certeiro. Matheus fica a espera: “Qual será a próxima novidade que o papai vai trazer?” A mãe também trabalha fora, o dia todo, todo dia. Chega sempre às 19 horas em casa e às vezes é surpreendida com a intimação para servir de motorista para o filhão, que subitamente apresentou a proposta de um lanche na casa dos amigos, a necessidade de comprar um livro ou uma cartolina para o trabalho que acontecerá no dia seguinte às 7 horas da manhã. É a hora que ela se revela superpoderosa, esconde o cansaço para atender o filho necessitado.
E todo dia é assim a rotina do Matheus: de manhã está na escola, chega em casa, joga a mochila no sofá, os tênis vão saindo um a um no seu cômodo preferido. Um fica no corredor, o outro na cozinha. O almoço está pronto! Prato de comida e o celular do lado. É hora de atualizar as conversas e vê o que foi postado no snap. Almoço, quarto, celular, vídeo game e por fim um episódio daquela série famosa. Um episódio se ele conseguisse desligar o notebook, na verdade ele assiste uns 3 episódios consecutivos e assusta quando percebe que já são 19 horas.
Hora de encontrar a mãe, que provavelmente vai chegar cansada, com fome, precisando de um banho e um pijaminha confortável. Mãe e filho em casa. Um lanche ou jantar é o máximo da interação. Depois cada um no seu quarto. A companhia deles é o barulhinho das notificações do whats e facebook.
Até que um dia, chega das profundezas dos territórios escolares, a chamada OCORRÊNCIA. Bbuummm!!!!! “Senhora Marli, gentileza comparecer a escola do seu filho para conversarmos sobre assunto de seu interesse. Motivo: Matheus não apresenta tarefas de casa, trabalhos avaliativos e apresentou baixo rendimento nas avaliações de português e matemática.”
A balança desregulada de Matheus explodiu! O prato dos prazeres, presentes sem motivo, excesso de culpa dos pais por trabalharem muito, sobrepôs o prato do esforço, das obrigações, responsabilidades e dos limites. De repente, um garoto saudável e inteligente está a beira da reprovação simplesmente por falta de uma vida equilibrada. Vocês conhecem o final dessa história? Eu vou contar: o pai presenteador, de repente se veste de “bravão”. Chega de viagem na sexta à noite, toma conhecimento do fato. Confisca do quarto todo o aparelhamento tecnológico e diz bem nervoso: “Enquanto você não recuperar suas notas, você não toca em tecnologia! Você está proibido por tempo indeterminado! Quero você estudando para a recuperação a tarde toda, sem parar!!!!” Matheus começa seu calvário em busca de reconquistar a vida antiga e desregrada. Estuda para as provas e recupera as notas. Os pais aliviados devolvem todo o aparato tecnológico e lá vai Matheus rumo ao ciclo vicioso de uma vida sem limite, sem rotina saudável, sem equilíbrio. Movido a picos de ocorrências e recuperações. Treinado para a desregulação, para uma vida sem esforços.
Sempre pronto para responder nos 44 minutos do segundo tempo, sem uma consciência de responsabilidade e manejo do tempo. A balança desequilibrada na vida de Matheus é uma herança familiar.
Profª Zilanda Souza – Neuropsicopedagoga
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