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Irineu Serra, que além de tudo também se destacava em meio às | ⭕️ Xamanismo Universal

Irineu Serra, que além de tudo também se destacava em meio às pessoas pela sua altura – tinha cerca de 2 metros – foi acusado de curandeirismo e charlatanismo no novo local, e chegou até mesmo a ir para a prisão em 1942, após cerco a sua casa feito por cerca de quarenta oficiais (Moreira e MacRae, 2011). Tal fato motivou o Mestre a se mudar novamente, desta vez em definitivo.

Tanta perseguição levou Irineu a desenvolver habilidades diplomáticas especiais, que o tornaram capaz de transitar entre diferentes círculos sociais. Estabeleceu alianças com políticos importantes, ao mesmo tempo em que resgatava pessoas que viviam em condições análogas à escravidão nos seringais.

Essa diplomacia cosmopolítica de Mestre Irineu, que considerava também as plantas, os animais e a natureza, foi capaz de consolidar seu grupo religioso, que cresceu até contar algumas centenas de pessoas, e tornar Irineu um cidadão regionalmente respeitado.

Essa consolidação foi a base para catapultar, décadas depois, a diáspora nacional e internacional do Santo Daime, empreendida especialmente por dois de seus seguidores, Padrinho Sebastião Mota de Melo e seu filho, Padrinho Alfredo Gregório de Melo.

Hoje o movimento fundado por Irineu Serra está presente em pelo menos 43 países de todos os continentes habitados. De Montevideu até Berlim, passando por Nova York e Jerusalém e chegando até o Japão. É um dos movimentos religiosos brasileiros mais internacionais. E tem cumprido um papel importante na regulamentação e legalização da ayahuasca no mundo todo (Assis e Labate, 2014).

Isso não quer dizer que as coisas se tornaram fáceis para os daimistas. Ao contrário. Perseguições continuam. Agora globalmente. Nas últimas 3 décadas, daimistas foram presos e dezenas de litros de Daime foram apreendidos em diferentes lugares do mundo. Mas os seguidores de Irineu Serra são resilientes. Eles tem a quem puxar!

A antropomorfização da ayahuasca: Irineu torna-se Juramidam

Em 06 de julho de 1971, ocorre o falecimento do Mestre Raimundo Irineu Serra. Seus seguidores acreditam que seu falecimento simboliza o cumprimento de sua missão na Terra. A partir daí sua doutrina está pronta. Ele passa então a ser reconhecido pelos daimistas como Juramidam, seu nome espiritual. “Mestre Império Juramidam”.

A ayahuasca, entendida pelos daimistas também como um “ser divino, transformado em líquido” (Silva, n.d.) passa a ser sinônimo do próprio Mestre Irineu. A bebida se transforma em gente. E Irineu Serra se transforma em planta. Daime e Irineu se fundem em um só. Como ele disse, certa vez: “Eu sou o Daime e o Daime sou eu”.

Hoje, o túmulo de Mestre Irineu é um local de peregrinação internacional, e um importante ponto turístico da cidade de Rio Branco, e a fórmula da ayahuasca desenvolvida por Irineu se consagrou não só no Santo Daime mas em diversos outros grupos, como um método de preparação seguro e uma ayahuasca muito especial.

Sua comunidade original continua funcionando no mesmo lugar, liderada pela viúva de Irineu Serra, Madrinha Peregrina Gomes Serra, que atualmente tem 83 anos e continua participando ativamente da vida religiosa.

Santo Daime: contracultura descolonial brasileira

Hoje a ayahuasca está se tornando mainstream. E, juntamente com a valorização de saberes tradicionais, esse movimento também mercantiliza a bebida e desencanta suas práticas. Alguns saberes da ayahuasca vivem um processo de embranquecimento e seus personagens são apagados da história. Resgatar figuras históricas do Sul global, lugar nativo da bebida, é uma forma importante de contrabalançar essa situação.

Mestre Irineu é um personagem fascinante da história da ayahuasca. Sua vida nos ensina que a discussão sobre esta “bebida que tem poder inacreditável” (O Cruzeiro, n.d.) não é somente sobre psicodélicos. É também sobre diversidade. Meio ambiente. Cultura. Sobre superação de preconceitos e estigmas sociais. Sobre uma conduta de vida descolonial e contra hegemônica.