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Para conseguir navegar nos ramos das misteriosas dimensões da | ⭕️ Xamanismo Universal

Para conseguir navegar nos ramos das misteriosas dimensões da ayahuasca, é necessário adotar uma posição de humildade perante seu poder, e pedir: Daime!

Mestre Irineu passa então a combinar o consumo ritual da ayahuasca com elementos de outras tradições espiritualistas, incluindo o catolicismo popular brasileiro, a espiritualidade indígena, o esoterismo europeu e as religiosidades afro-brasileiras, dando origem, nos anos de 1930, a uma filosofia original, conhecida hoje como Santo Daime.

Desde seu início, portanto, o Santo Daime teve como características o sincretismo e o intercâmbio junto a outras práticas, se constituindo como um mosaico cultural. Isso permitiu ao grupo se adaptar ao contexto complexo e beligerante da época, e ser moldado a diferentes concepções de mundo.

Essa chave de leitura, que mostra Mestre Irineu como um xamã que construiu pontes entre mundos distintos, nos dá uma dica para compreender a presença de elementos cristãos no Daime. Algumas pessoas, especialmente o público branco de classe média do hemisfério Norte, têm resistência a essa interface com o cristianismo.

Dizem que Mestre Irineu cristianizou a ayahuasca. O que eles não dizem é que ele também “caboclizou” o cristianismo, ressignificando-o para o povo pobre do seringal (Rodrigues, 2019). Um cristianismo caboclo, que resgata a auto-estima dos trabalhadores da borracha. Um cristianismo descolonial.

Tome por base o próprio mito de origem do grupo. É a Virgem da Conceição que revela a Irineu Serra sua missão espiritual. Mas ela também é a Rainha da Floresta. Também é uma “deusa universal”. Assim como a ayahuasca é uma mistura simbiótica de duas plantas que produzem uma bebida única, a filosofia de Mestre Irineu é uma mistura antropofágica de diversas culturas que produz uma identidade autêntica.

Uma experiência musical

Assim como muitos outros daimistas, eu gosto de chamar o Santo Daime de uma “religião musical”. Isso porque, após estabelecer contato com a Rainha da Floresta, esta teria dito a Irineu que gostaria de ser louvada de forma alegre, através de cantos.

Irineu respondeu que não sabia cantar, ao que ela lhe ordenou que abrisse a boca, pois ela iria lhe ensinar. Naquele momento, Irineu teria sido inspirado a cantar “Lua Branca”, o primeiro hino do Santo Daime.

Desde então os textos sagrados dessa religião estão inscritos em hinos musicados, “recebidos” por daimistas do mundo inteiro. Um grupo de 132 desses hinos compõe o hinário de Mestre Irineu, conhecido como O Cruzeiro, base fundamental da prática religiosa do grupo. Organizados cronologicamente, essas canções são consideradas pelos daimistas como mensagens divinas, espiritualmente inspiradas.

É virtualmente impossível compreender o Santo Daime sem olhar para seu aspecto musical. A música não só faz parte, como cria o universo encantado da “doutrina”. As paisagens sonoras das cerimônias são capazes de levar e trazer as pessoas de suas jornadas visionárias, e são uma ilustração potente da simbiose entre psicodélicos, cultura, espiritualidade e corpo (Assis, Labate e Cavnar, 2017).

Nas cerimônias do Santo Daime, a música é tão importante que as pessoas não só escutam hinos, mas também cantam e bailam por até 12h (!), dependendo da cerimônia (Sim, o daimista é um dançarino por natureza!). Um trabalho do Santo Daime é, essencialmente, uma experiência musical.

Da prisão até o Japão

Sendo um homem negro que ousava cultivar uma espiritualidade contra hegemônica, Mestre Irineu sofreu perseguições e carregou um forte estigma social por um longo tempo.

Em seus primeiros tempos na Amazônia, foi alvo das ações que a polícia realizava contra a “feitiçaria”. Chegou inclusive a ser baleado por policiais. Isso motivou sua mudança do interior para a capital do estado, Rio Branco. Mas não pense que as coisas melhoraram a partir daí.