2023-03-04 15:57:42
SÁBADO DA 1ª SEMANA
O amor de Deus revelado na Paixão de Cristo
Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós (Rm 5, 8).
1.
Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios (Rm 5, 6). Isto é algo grandioso se considerarmos quem é que morreu, e grandioso também se considerarmos por quem Ele morreu.
Dificilmente, alguém aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem (Rm 5, 7), isto é, dificilmente se achará alguém que morreria para libertar um homem inocente, e está dito mais ainda:
E o justo perece sem que ninguém se aperceba (Is 57, 1).
Acertadamente, pois, disse São Paulo que dificilmente
alguém aceitaria morrer. Pode ser que se encontre um, alguma rara pessoa que, por superabundância de coragem, fosse audaz o bastante para morrer por um homem justo. Mas isso é raro, pela simples razão de que agir assim é o que de mais elevado se pode fazer.
Ninguém tem maior amor, diz Nosso Senhor,
do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15, 13).
Mas algo semelhante ao que fez o Cristo - morrer pelos pecadores e perversos - jamais fora visto. Donde é com razão que questionamos, estupefatos, por que Ele o fez.
2. Se de fato for perguntado por que Cristo morreu pelos perversos, a resposta é que Deus, dessa forma, deu
uma prova brilhante de amor por nós. Ele nos mostrou que nos ama com um amor que não conhece limites, pois
quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
A morte mesma de Cristo por nós revela-nos o amor de Deus, pois foi seu Filho quem Ele entregou para morrer, a fim de fazer satisfação por nós.
De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único (Jo 3, 16). E assim como o amor de Deus Pai por nós se mostra pelo fato de ter Ele nos dado seu Espírito Santo, também é evidenciado seu amor desta maneira - pelo ter dado seu próprio Filho.
O Apóstolo diz que Deus nos deu
uma prova de seu amor, significando desse modo que o amor de Deus é algo que não pode ser mensurado. Isto é demonstrado pelo próprio fato em questão, isto é, o fato de que Ele deu seu Filho para morrer por nós, e evidenciado também pela condição nossa, aqueles por quem Ele morreu. Cristo não foi movido a morrer por nós por conta de algum mérito de nossa parte, pois
o fez quando éramos ainda pecadores. Mas Deus,
que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo (Ef 2, 4).
Super Rom., c. 5
3. Tudo isso é quase inacreditável.
Vou realizar em vossos dias uma obra, que não acreditaríeis, se vo-la contassem (Hab 1, 5). Esta verdade de que Cristo morreu por nós é uma verdade duríssima, da qual nossa inteligência mal pode dar conta. Mais do que isso, é uma verdade que nossa inteligência de modo algum poderia descobrir. São Paulo, ensinando, faz eco a Habacuc:
Eu vou realizar uma obra em vossos dias, obra a que não creríeis, se alguém vo-la contasse (At 13, 41).
Tão grande é o amor de Deus por nós e a graça que nos concede, que Ele faz por nós muito mais do que podemos acreditar ou compreender.
Expositio in Symbolum Apostolorum, a. 4
64 views12:57