2022-07-25 16:44:16
Assim o orgasmo ruim, farto e barato da pornografia, como dinheiro ruim, acaba afastando o dinheiro bom do orgasmo conjugal bom, comparativamente raro e caro (em tempo, trabalho, atenção ao cônjuge...). A sexualidade do viciado passa a ser modelada pela pornografia. Mesmo tendo um cônjuge que o ama, o viciado passa a desprezá-lo em benefício do vício solitário. Ou, até, tem relações com o cônjuge a modo pornográfico, mecanicamente, acrobaticamente, sem amor, sem intimidade e sem carinho. O cônjuge, num tal caso, torna-se substituto da mão direita do viciado em pornografia. Não é mais uma pessoa, que dirá uma pessoa amada; é literalmente um objeto sexual.
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Mais ainda: todo viciado em pornografia, independentemente de estado civil, é psicológica e sexualmente solitário. O sujeito pode ter dez relações sexuais por semana, pode ser considerado o terror da mulherada, o papão das mocreias, mas é solitário. Afinal, a substituição do objeto de atração pelo modo de conjunção o tornou incapaz de experiência sexual ordenada. Os parceiros sexuais são apenas sucedâneos intercambiáveis da própria mão, e em algum momento aquilo vai deixar de bastar. Afinal, tendo sido feita a transformação demoníaca de um ato ao menos potencialmente gerador e unitivo numa repetição frenética de orgasmos secos produzidos pela atenção a imagens degradantes, é fundamental que a coisa vá ficando cada vez menos normal para que se possa voltar a ter o entusiasmo inicial. Quem começa vendo um rapagão e uma moça bonita tendo relações acaba precisando de vídeos com “bodes, carrinhos de mão e anões besuntados” ( Luís Fernando Verissimo).
Uma amiga comentava comigo outro dia a escalada monumental da pornografia. Em meados do século passado, circulavam os “catecismos” do Carlos Zéfiro: histórias em quadrinhos de sexo explícito, horrivelmente mal desenhadas, mas com grande sucesso entre os moleques adolescentes. Dali passou-se às fotografias pornográficas, divididas entre as legalmente permitidas (as famosas “revistas de mulher pelada”, como a Playboy, que mal e mal mostravam pelos púbicos) e as proibidas, em que havia sexo explícito e poses ginecológicas. Sem movimento. Em fotografias.
Onde entra a pornografia sai o amor, porque a pornografia deforma justamente o imaginário do que deveria ser o auge do amor humano. Torna-o estéril. Falso. Feio
Já hoje está ao alcance de qualquer celular, nas mãos de qualquer um, todo tipo de pornografia extremamente explícita. Para piorar, seu formato mais comum é o vídeo, cujas características e perigos apontei aqui mesmo semana retrasada. Crianças assistem a pornografia regularmente, modelando desde antes de começarem a ter relações o modo como as terão. Um modo pornográfico, desordenado, em que não há amor algum. Ouvi de uma mocinha outro dia que o namoradinho de uma sua amiga lhe “f* a cara”, segurando-a pelas orelhas e usando sua garganta como receptáculo. Trata-se de uma mocinha perto da idade legal de consentimento – que no Brasil é de 14 anos – e um rapazinho da mesma idade ou pouca coisa menos novo. Qual é a chance de essas pessoinhas chegarem a ter uma sexualidade sadia? A meu ver, ela é inversamente proporcional à exposição à pornografia. No caso do rapazinho, o mal já está feito. No caso da mocinha, o trauma está garantido.
É devido à sexualidade pornográfica que se têm cantoras que tatuam “eu te amo” no ânus, que se tem crianças fazendo crianças, que se tem maníacos abusando de crianças ou de pacientes desacordadas. É a sexualidade pornográfica que leva as farmácias a vender toneladas de pilulazinhas azuis, que servem para ajudar a ultrapassar a diferença entre a mulher-robô aparentemente de matéria plástica de um vídeo ou fotografia retocada e uma mulher de verdade, com suas celulitezinhas e pneuzinhos.
51 viewsMarisol Gomes, 13:44