Eduardo Vieira

2021-10-22 18:38:37 Chegando em Manaus levaria as malas para um hospital onde as entregaria para um sujeito que chefiava uma equipe de cientistas. O dinheiro serviria para convencer todos os envolvidos a fazer o que eles definiram e comprar o silêncio dos que acabassem por saber dos detalhes. Jorjão compreendia isso muito bem. Pagar costuma ser bem mais barato que matar, a não ser no seu feudo. Mas ele detestava a hipótese de andar com malas de dinheiro. Era dor de cabeça certa se fosse parado pela polícia.

Lendo o desconforto em seus olhos, o chefe o informou que ele voaria direto no jatinho particular de um dono de editora seu amigo. A secretária passaria os detalhes. Agora precisava ir pois muita gente estava esperando essa grana. Fundações, senadores, diretores e todo tipo de dor de cabeça. E ele tinha outra reunião. Jrojão se levantou, pegou as malas e virou-se para ver uma figura conhecida abrindo a porta.

Jorjão tinha desenvolvido um instinto para leitura de posturas, ainda que não soubesse disso. Viu entrar um homem subserviente, levemente encurvado, com um sorriso débil nos lábios. Ao vê-lo, o homem imediatamente ajustou a postura, removeu o sorrisinho e deu um "boa tarde" grave e sério.

Jorjão sentiu um impulso forte de asco mas respondeu rapidamente e tratou de sair. Já tinha visto aquela careca em algum lugar mas não tinha tempo de pensar nisso agora. Tinha uma missão em Manaus antes de voltar para seu precioso cantinho na selva, onde era rei. Aberto / Como

2021-10-22 18:38:37 A Quadrilha
(Eduardo Vieira - 22/out/2021)

Caminhando pela trilha daquela pequena instalação no meio da selva amazônica, Jorjão estava de mau humor. Não que esse não fosse o estado natural de um homem no ofício a que ele se dedicava mas naquele dia estava ainda mais aborrecido. Enquanto rumava para a pequena pista de pouso numa reserva florestal da Colômbia o gerente operacional da produção de cocaína do consórcio "NarcoSul" resmungava sobre a perda de tempo em se deslocar até São Paulo apenas para uma rápida reunião com o chefe.
Quando o teco-teco pousou Jorjão tratou logo de se certificar que o mesmo estava completamente limpo. Ameaçou o piloto e sua família em caso de qualquer problema e embarcou para São Gabriel da Cachoeira, de onde pegaria outro avião para Manaus e dali seguiria para São Paulo em avião de carreira. Detestava voar em aviões de carreira e detestava ficar fora de sua base. Lá ele era a lei, matava quem o desagradava, tinha farta verba para fazer atender seus prazeres e era temido e respeitado. Num avião comercial, se agredisse alguém perderia um tempão e ainda daria dor de cabeça para o chefe, coisa sempre arriscada.

Jorjão era um sujeito pragmático. Limitado intelectualmente como todo pragmático, evidentemente. Há muitos anos percebeu que o tráfico de drogas era algo lucrativo e que subir na hierarquia dependia apenas de ser leal e se deixar humilhar pelos superiores ao mesmo tempo que escorraçava e matava os inferiores, especialmente os que chamavam a atenção dos chefes. Assim fez sua carreira, matando, traindo e lambendo botas, até que chegou ao lugar de seus sonhos. Um pequeno feudo no meio da mata, oculto de tudo e de todos e protegido pelas forças armadas colombianas. Ali ele era rei absoluto em pleno século XXI. Rei Jorge, o Forte, imaginaria ele se tivesse a mínima noção do que seria imaginação. Mas não tinha. Jorjão era pragmático e para ele valia apenas o máximo de dinheiro, poder e prazer que conseguisse atingir a cada dia. E aquele seria um dia perdido.

Chegando em São Paulo ficou aliviado por ser a reunião no escritório da Faria Lima e não na mansão do chefe no Morumbi. Isso significava uma reunião curta, sem as intermináveis palestras intelectuais do chefe, que sempre terminavam o deixando com uma sensação incômoda que uma pessoa de mente menos doentia já teria há muito identificado como medo.

Teve a porta aberta pela beldade que estava hoje no posto de secretária particular do chefe. Já havia se esquecido mas houve um tempo em que tal beldade o faria salivar internamente. Mas depois de três anos de total liberdade em seu feudo tal cenário já não o interessava mais. Havia deixado esses prazeres infantilescos para trás.

O chefe estava ao telefone e gesticulou para que sentasse. Em breve desligou o telefone e o encarou em silêncio por alguns segundos. Jorjão já conhecia esse gosto do chefe por jogos psicológicos. Houve um período que o chefe o recebia com a sala numa temperatura polar e oferecia água geladíssima. Outras ocasiões ele o fazia sentar de frente para a luz ofuscante do sol da tarde. Coisa chata mas esse era o chefe, tinha que aturar. Já havia pensado várias vezes no que aconteceria se simplesmente o matasse ali mesmo mas tinha certeza de que não duraria nem dois minutos após isso e então perderia seu feudo para sempre.

O chefe então começou a se queixar. Disse que seus negócios não são simples como o Jorginho poderia imaginar. Tinha que negociar com gente complicada o tempo todo, sobre assuntos difíceis e intrincados, seja lá o que isso signifique. Agora mesmo, disse o chefe, estava mandando dinheiro para financiar um estudo encomendado em Manaus. Precisava que Jorjão cuidasse disso por uns dias. Tinha feito um acordo milionário com empresas de medicamentos que envolvia senadores, deputados e até ministros do Supremo. Jorginho teria que levar duas malas de dinheiro de volta com ele. Aberto / Como

2021-10-22 18:37:25 Aberto / Como

2021-10-20 20:13:59 Novo artigo no Vista Pátria: https://vistapatria.com.br/e-correto-chamar-o-outro-lado-de-inimigo/ Aberto / Como

2021-10-18 19:09:49 Feliz dia dos Professores!
(Eduardo Vieira - 18/out/2021)

Hoje é, na verdade, o dia do médico. Mas a vida não respeita nossos momentos de classe e não pude me manifestar da forma que gostaria nesse dia tão especial para mim, professor e apaixonado pelo ofício, pela arte.

Pensei num texto que listasse os inúmeros sacrifícios que tantos professores fazem todos os dias para trazer a luz aos seus alunos. Mas das dores já sabemos e é melhor que fiquem num lugar secundário de pouco destaque.

Eu venho parabenizar aqui a todos os que se dispõe, em qualquer formato que seja, a transmitir conhecimento para seus próximos. Nesse ato simplório está embutida uma grande dose de amor, acima de tudo.

Aliás, é o amor que torna uma relação professor-aluno realmente produtiva. Com ele vem a confiança e o respeito e quando temos todos esses firmes podemos singrar os mares do conhecimento com força e firmeza. Ainda que o aluno caia da nau e sinta estar se afogando a bóia salvadora estará sempre ao seu alcance no momento crítico e se o audaz marujinho não conseguir fazer uso dela o mestre poderá fazer cessar a tempestade, suavizar as ondas e mesmo transformar a borrasca numa acolhedora salinha de uma estalagem do século XIX, com uma gostosa lareira a crepitar enquanto flocos de neve se acumulam, belos e plácidos, no parapeito da janela.

Neste dia dos professores (é dos médicos mas tenham paciência com o atraso) quero em especial defender a noção de que o conhecimento não vem necessariamente de um ambiente certificado. Não vem igualmente de um profissional certificado e muito menos de um livro certificado. Busquem, pais, a excelência acima de qualquer ISO 9.000. Usualmente esta será encontrada num local onde as ISOs não conseguem chegar. Confiem acima de tudo em seu bom senso, no que seu coração diz a vocês, quando forem escolher o caminho de engrandecimento intelectual de seus pequenos.

Mens sana in corpore sano, já dizia o sábio. A mente e o corpo devem ser saudáveis. E vemos hordas de pais colocando os filhos em toda sorte de atividades físicas e confiando apenas à escola a formação intelectual das crianças e jovens. Esse é um erro gravíssimo e não só por conta dos desvios que encontramos em tantas instituições. A qualidade é também um duro desafio.

Incentivem, pois, seus filhos à leitura como arma mais poderosa para a liberdade e avanço do intelecto. E busquem apoio nos mestres que se dispõe a orientá-los nessa jornada. De pouco adianta ter um craque de bola, um surfista proficiente, um forte nadador ou uma graciosa bailarina se estes não tem a amplitude de imaginação necessária para os vôos que eles querem tanto realizar. E eu garanto que TODOS eles querem voar, seja num balão com Mr. Fogg, num foguete rumo à Lua acompanhados de Verne ou de Hergé ou mesmo no bico de uma gaivota chamada Fernão.

Os livros de histórias nos presenteiam com as ferramentas linguísticas e poéticas para que sonhemos com mais riqueza e com beleza antes sequer imaginável.

Feliz dia dos professores, então, a todos que amam seus alunos e que enxergam o esplendor daquela divina centelha que brilha forte em cada uma de nossas crianças. Que Deus os inspire, fortaleça e preserve e que seus alunos floresçam na riqueza da Beleza, da Verdade e da Justiça.

E feliz dia dos médicos aos que nos mantém funcionando! Muito obrigado :) Aberto / Como

2021-10-18 19:09:44 Aberto / Como

2021-10-04 22:58:17 O sindicato dos gordinhos sojados de cabelo azul está apreensivo. Com quase totalidade da categoria trabalhando na análise de posts nas empresas Suck, o órgão prevê uma catástrofe em caso de fechamento das portas desse império. Foi iniciada a campanha #AdoteUmOtarioEstrogenado Aberto / Como

2021-10-04 22:58:12 Aberto / Como

2021-09-23 03:44:38 Compartilho meu novo artigo para o Portal Vista Pátria: https://vistapatria.com.br/a-beleza-contra-ataca/ Aberto / Como

2021-09-16 18:39:39 A Nefasta Perversão das Escolas
(Eduardo Vieira)

As escolas são tidas como uma necessidade vital neste mundo moderno. Um mundo onde é necessário cada vez mais esforço para se garantir um padrão de vida satisfatório. E esse usualmente inclui demandas de consumo que chegam ao nível da bizarrice e servem como certificados de sucesso, sem os quais o respeito e a consideração diminuem drasticamente.

Como considerar bem sucedido um indivíduo sem um Rolex, um Audi ou aquelas fotos de viagens anuais?

Neste processo empenadíssimo de substituição de valores virtuosos por quinquilharias de grife as famílias acabaram espremidas por uma demanda externa programada em suas mentes. E essa demanda obriga todo mundo a trabalhar furiosamente. E o que fazer com as crianças?

Escola nelas, por cada vez mais tempo. Se possível, de manhã até a noite. "Ah, se ao menos tivéssemos os 7.000,00 da mensalidade daquela escola tão chique na Zona Sul. Vou mudar para um emprego que remunere melhor".

E assim a formação moral das crianças vai sendo terceirizada para escolas e para os fornecedores de conteúdo de entretenimento. E onde está o problema?

Bem aqui, exemplificado nesta matéria que não trata de uma exceção acerca da ação maligna dos professores mas sim acerca da virtuosa reação ro prefeito. Vejam o que ocorreu:

Numa escola no estado de Ohio estudantes foram apresentados à uma demanda por trabalhos escritos sob o nome "642 coisas sobre as quais escrever". Dentre essas "sugestões" havia conteúdo como:

- Escreva uma cena de sexo que você não mostraria para a sua mãe
- Reescreva a cena de sexo da sugestão acima em uma cena que você deixaria a sua mãe ler

Um juiz local entendeu que tal exercício configurava crime de pornografia infantil. O prefeito deu aos membros do conselho da escola a opção de se demitirem ou encararem um processo criminal.

Isso é apenas um exemplo. Barbaridades ainda maiores ocorrem todos os dias em todo tipo de escolas no Brasil e no mundo.

Vigiem sempre e reclamem sempre. Os maus olharão de cara feia e algumas vezes a única solução é exigir que saiam definitivamente. A luta é dura mas não há causa mais importante. Aberto / Como