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O diálogo na crônica: utilizando o discurso direto Como vim | A ocasião faz o escritor - Olimpíada de Língua Portuguesa

O diálogo na crônica: utilizando o discurso direto

Como vimos, a crônica também pode ter personagens, afinal, olhar para o mundo é também olhar para as pessoas que nele vivem, cujas vozes podem ser registradas a partir do discurso direto, um recurso comum em textos ficcionais. É o caso do diálogo entre um trabalhador rural e o patrão, que aparece no conto “Alicerce”, de Geni Guimarães:

“Num desses dias, quando atravessávamos a fazendinha e falávamos sobre o meu estudo, ele me disse:
— Tem que ser assim, filha. Se a gente mesmo não se ajudar, os outros é que não vão.
Nisto ia passando por nós o administrador, que ao parar para dar meia dúzia de prosa, cumprimentou meu pai e disse:
— Não tenho nada com isso, seu Dito, mas vocês de cor são feitos de ferro. O lugar de vocês é dar duro na lavoura. Além de tudo, estudar filho é besteira. Depois eles se casam e a gente mesmo...
A primeira besteira ficou sem resposta, mas a segunda mereceu uma afirmação categórica e maravilhosa, que quase me fez desfalecer em ternura e amor.
— É que eu não estou estudando ela para mim — disse meu pai. — É pra ela mesma.”

Ao se utilizar do discurso direto, Geni traz para o texto a fala do pai, que responde a um discurso que romantiza e naturaliza a dura condição de vida da população negra, uma das consequências de uma abolição da escravidão que não lhes garantiu direitos mínimos, como na época desse trabalhador. A partir do seu modo de falar, uma outra concepção para o verbo “estudar” é elaborada, pois “estudar”, no discurso do pai, é fornecer condições para que a filha estude e seja independente, ou seja, seu trabalho é uma forma de “estudar” a filha. Será que esse pensamento do pai teria a mesma força expressiva se tivesse sido registrado a partir do discurso indireto? O que seria perdido? Que falas e vozes poderiam aparecer por meio de um discurso direto numa crônica sobre o lugar onde se vive? Algum diálogo marcante? Uma fala de um morador antigo? As possibilidades são infinitas!

Leia o conto “Alicerce”, de Geni Guimarães, na íntegra, no nosso portal Escrevendo o Futuro. Para conhecer outras obras da autora, acesse o portal Literafro.

Caso deseje conhecer mais Geni Guimarães, assista ao vídeo sobre a entrevista que os semifinalistas da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa fizeram com a escritora, e leia a matéria sobre sua palestra para professores e alunos na mesma edição.

Para aprofundar-se no gênero Crônica e conhecer outras obras, (re)visite o Caderno Docente A ocasião faz o escritor, produzido pela Olimpíada de Língua Portuguesa.

Saiba mais sobre a 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa.