2021-10-23 21:32:21
O APOSTOLADO DE PAULO FOI QUESTIONADO PELA IGREJA?
No primeiro post escrevemos sobre as dificuldades de Paulo para se inserir na primeira comunidade cristã (link abaixo). Agora traremos alguns questionamentos feitos sobre seu próprio apostolado, na fase de desenvolvimento do seu ministério entre os gentios.
A razão de ser destas duas postagens não é polemizar, muito menos diminuir a importância do trabalho do apóstolo. O que pretendemos é tentar demonstrar como Paulo se viu às voltas com sua vocação e o exercício de sua chamada. Para muitos parece irreal que ele tenha enfrentado tais desafios.
Líderes há que ao menor sinal de problemas e barreiras, ou falta de aceitação, já pensam que não foram chamados ou que Deus os abandonou. Vemos nestes dois textos, de maneira simples e objetiva, que Paulo, mesmo sendo vocacionado por Deus, teve que enfrentar indiferença, oposição, questionamentos e até uma certa competição.
O foco aqui são as duas cartas aos Coríntios. Corinto era uma importante cidade-porto. Era um entreposto onde o comércio da Ásia encontrava guarida. A antiga cidade, dos tempos do Novo Testamento, tem registros de residência desde o Neolítico (3000 a 5000 a.C.). A partir de 582 a.C., Corinto passou a abrigar os Jogos Ístmicos, celebrados em honra de Poseidon. Ainda hoje é uma cidade de grande projeção.
Paulo morou lá 18 meses e endereçou duas de suas mais volumosas cartas, denotando uma especial importância da igreja naquela localidade. De fato, ele chega a dizer que a comunidade ali era ornada com todos os dons espirituais (1 Co 1:7). Entretanto, numa leitura mais atenta das cartas fica evidente algumas dificuldades.
Já no capítulo 1 de I Coríntios temos uma certa competição entre os crentes em Corinto. Eles se dividiram entre os de Paulo, Apolo, Cefas e Cristo (1 Co 11:12; Paulo repete o questionamento em 1 Co 3:4-6). Ao que tudo indica os irmãos discutiam entre si quem seria mais “crente”, pelo fato de ter sido batizado por Paulo, Apolo ou Pedro. Os mais exaltados diziam ser de Cristo, alguns entendem que é como se dissessem: “Somos melhores ainda que os demais!”.
Paulo admoesta que os irmãos evitem esses partidos, afinal todos foram salvos, única e exclusivamente, por Cristo. De forma que ninguém pode gloriar-se de pertencer a este ou aquele grupo a não ser à igreja como um todo (1 Co 1:31; 3:21-23)!
O capítulo 2 dá a entender que havia um questionamento direto sobre a vocação de Paulo, que iremos retomar mais adiante. Paulo escreve que toda sua trajetória entre eles foi espiritual (1 Co 2:1,2). E se espirituais fossem, deveriam procurar discernir seus passos a partir de uma perspectiva espiritual e não carnal (1 Co 3:1). Note que esse mesmo questionamento aflora em 1 Co 4:3.
Os capítulos 5 a 8 são recheados de respostas a questionamentos sobre problemas práticos apresentados anteriormente pelos coríntios, cujo conteúdo desconhecemos (1 Co 7:1). Paulo orienta a comunidade cristã ali a como proceder.
Mas no capítulo 9, o apóstolo retoma a defesa de seu apostolado: “Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. Esta é minha defesa para com os que me condenam” (1 Co 9:2,3). Esse trecho deixa claro que, de fato, estavam alguns questionando seu trabalho.
Os capítulos 10 a 16 retomam os conselhos e admoestações mais variados. Os capítulos 1 a 9 de 2 Coríntios parecem indicar conteúdo semelhante, mas as entrelinhas nos deixam perceber uma defesa sutil do trabalho do apóstolo. É um texto mais elaborado e ao mesmo tempo percebe-se o empenho de Paulo em provar que foi chamado. O leitor abra sua Bíblia no capítulo 6, versículos 1 ao 11 e vai perceber o que estamos falando.
Já no capítulo 10 o apóstolo retoma um estilo mais duro, deixando a afabilidade de lado. É que alguém chegou a dizer de Paulo: “Porque as suas cartas, dizem, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível” (1 Co 10:10). Alguns estudiosos opinam que Paulo não pregava de forma eloquente, embora fosse usado poderosamente
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