2023-04-14 13:00:16
POMBAGIRA NA UMBANDA
Fecha os olhos, imagina Pombagira, qual imagem vem à sua mente?
Lhe agrada ou lhe estranha? Como ela é?
Forte, sensual, guerreira, delicada, negra, branca?
Ela está fumando, bebendo, dançando, provocando, rodando, gargalhando, gemendo, gozando, guerreando, quieta, séria, furiosa ou feliz?
Para uns uma guerreira, para outros delicada e sensual, transgressora, provocadora, mulher de enfrentamento, amante da alma, guardiã de seus caminhos.
Há quem diga ser puta, vadia, cadela, cachorra, rameira, quenga, vaca, galinha, piranha... o ponto cantado de Umbanda já diz “na boca de quem não presta Pombagira é vagabunda”.
Ainda nos perguntamos se tem a ver com a profissão mais antiga da humanidade ou com a liberdade indomável de uma mulher selvagem, rotulada com o que há de pior nos adjetivos machistas, misóginos, patriarcais.
Pode ser que o xingamento saído da “boca de quem não presta” seja mesmo um elogio.
O xingamento da ignorância pode ser motivo de gargalhada, afinal o que esperar de um mundo materialista com valores invertidos.
Nós não temos a mesma imagem de quem é Pombagira, cada um ou cada uma tem a sua imagem, sua própria projeção de quem ela é. Não há concordância. A grande maioria dos símbolos, sentidos, qualidades, atributos e atribuições associados à Pombagira são imagens distorcidas criadas, em sua maioria, na mente de homens hétero normativos patriarcais machistas.
Pombagira incorpora em homens e mulheres, a partir de uma espiritualidade natural acessível a todos e todas. Isto pode acontecer em ambiente doméstico, de uma espiritualidade livre ou na formalidade ritual de uma religião, como Umbanda, Jurema, Tambor de Mina, Encantaria, Espiritismo, Candomblé e outras que organizam e dogmatizam o saber por meio de doutrina e ritual, templo, sacerdócio e adestramento dos corpos.
Pombagira é o espírito feminino que toma corporeidade para se relacionar, em primeiro lugar com sua médium ou seu médium, e depois com as demais pessoas queridas que lhe procuram em casa ou no terreiro.
Pombagira bebe, fuma, canta, dança, rebola, provoca, chacoalha, geme, ri, gargalha, enfrenta e briga; rezando, orando, benzendo, desdizendo, quebrando demanda, desfazendo feitiço, desfazendo os nós, desembaraçando vidas, soltando amarras, libertando almas e corações por meio de baforadas, cusparadas, magias, velas, pó de pemba, ponto riscado, flores, perfumes, encantos e desencantos.
Acima de tudo Pombagira fala, orienta, conversa, dialoga, ensina, conduz, guarda e protege a quem sabe chegar com amor, respeito e reverência.
Pombagira é a mulher em sua potencia máxima de liberdade, que ganha corpo em todos os corpos.
Pombagira é o que quiser, pode ser ao mesmo tempo contrastes e contradições; pode ser a mulher selvagem e ao mesmo tempo a mulher delicada; pode ser da noite ou do dia; pode ser da guerra e enfrentamento ou da sedução e boêmia; pode ser Rainha Negra ou Rainha Branca; Africana ou Européia; pode ser o perfume de dama da noite ou navalha que corta a carne; é Maria Madalena, Lilith, Kaly, Hécate, Orixá Exua, Vodum Legbara, Inquice Pambunijila ou Bombogira.
Trecho retirado de "Pombagira a Deusa: Mulher igual você" a nova edição do livro de Alexandre Cumino
355 viewsSarah Gomes, 10:00