Get Mystery Box with random crypto!

O que é “etapismo”? Tanto os bolcheviques quanto os mencheviq | Rondó da Liberdade

O que é “etapismo”?

Tanto os bolcheviques quanto os mencheviques reconheciam que, em um país agrário e semifeudal como a Rússia, a Revolução teria um caráter democrático-burguês. Porém, como comentou Lenin, “os mencheviques aprenderam que a transformação democrática tem em sua base a revolução burguesa, e ‘entenderam’ isto como a necessidade de rebaixar as tarefas democráticas do proletariado ao nível da moderação burguesa, ao limite além do qual ‘a burguesia lhe dá as costas’ (...) Cedemos, com isso, a primazia na revolução às classes burguesas. (...) Os mencheviques acham que a realização ativa da revolução democrática não é tarefa para os socialistas, e sim para a burguesia democrática, pois a direção e a participação hegemônica do proletariado ‘limitariam o alcance’ da revolução”. Lenin em “Duas Táticas...”.

É esse erro fundamental dos mencheviques que podemos chamar de “etapismo”. Ou seja, a tese da necessidade de duas revoluções para se chegar ao socialismo. Na primeira, os trabalhadores cederiam a direção para a burguesia. E, só depois, seria possível conceber uma revolução dirigida pelo proletariado.

Então não existem etapas numa revolução, correto?

ERRADO! Reconhecer a existência de etapas em uma revolução não significa aderir ao “etapismo”. O próprio Lenin concebia a revolução em países semi-feudais, coloniais e dependentes como ininterrupta e por etapas. “Da revolução democrática começaremos logo a passar, na medida mesmo das nossas forças, das forças do proletariado consciente e organizado, à revolução socialista. Somos pela revolução ininterrupta. Não nos deteremos a meio caminho”, em “A Atitude da Social-Democracia Frente ao Movimento Camponês”, 1905. Num balanço sobre o processo revolucionário na Rússia, afirmou, “a experiência nos fez ver que é necessária uma série de etapas de transição: o capitalismo de Estado e o socialismo, para preparar, com muitos anos de esforço, o trânsito ao comunismo”, Lenin em “Ante o IV aniversário da Revolução de Outubro”, 1921.

Há uma crítica deturpada, dirigida a qualquer reconhecimento de etapas numa revolução, como “etapismo”. Nascida nas tradições anarquista e trotskista, essa noção equivocada tem se difundido nos últimos anos. Lenin já havia comentado que “(...) como resposta às objeções anarquistas de que adiamos a revolução socialista, diremos: não adiamos e sim damos o primeiro passo para ela através do único procedimento possível, do único caminho justo, que é o da república democrática. Quem quiser ir ao socialismo por outro caminho que não seja da democracia política, chegará inevitavelmente a conclusões absurdas e reacionárias, tanto no terreno econômico como no político”, em “Duas Táticas...”.

Um outro erro é o de conceber as etapas revolucionárias como estanques, sem que, no processo revolucionário, se pudesse avançar em medidas socialistas antes do esgotamento da etapa anterior. “A revolução socialista (…) não está separada da revolução democrático-burguesa por uma muralha da China, sabendo que só a luta decidirá em que medida conseguiremos (em última análise) avançar”. Lenin em “Para o Quarto Aniversário da Revolução de Outubro”, 1921.

Duarte Pereira pontua sobre as experiências revolucionárias que, “pode-se questionar se não houve erros no conteúdo detalhado dessas etapas estratégicas e subetapas táticas, ou em seus prazos de duração, ou se elas corresponderam efetivamente à realidade do capitalismo e do socialismo no mundo e em cada país, ou ainda se a combinação entre as tarefas nacionais de cada país e o apoio à luta revolucionária e independente nos demais foi adequada. Mas não parece justificável que se negue, em princípio, o desdobramento da luta dos trabalhadores proletários e de seus representantes políticos e culturais em etapas estratégicas e subetapas táticas, como se o caminho para alcançar uma sociedade comunista internacionalizada pudesse ser retilíneo e rápido, sem a necessidade de formulação de objetivos parciais e de sistemas transitórios de alianças”, em “Etapas e etapismo”.