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https://www.instagram.com/p/CVl7UTDtrvG/?utm_medium=copy_link | Rondó da Liberdade

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“O leitor por acaso já carregou cimento? Há algo curioso a respeito disso: quanto mais sacos se carrega, tanto mais parece pesar cada um deles. Quando chegamos ao saco de número duzentos, a dor permanente que havia se instalado em nossas costas era o de menos: nossos joelhos, a essa altura, pareciam ter adquirido vontade própria e, de vez em quando, num passo ou outro que dávamos com o acréscimo de cinquenta quilos no ombro, ameaçavam se dobrar sob o peso extra, de tal modo que precisávamos fazer esforço para não cairmos de quatro no chão.
Numa das ocasiões em que eu ia levando um saco e meus joelhos vacilaram brevemente, o Michel, que cruzava comigo naquele preciso instante, bem no meio do terreno, já retornando com o ombro livre após largar seu saco do outro lado, tentou me fazer rir para que eu perdesse as forças de vez e acabasse e quatro no chão: parou onde estava, colocou as mãos nas cadeiras e empertigou todo, dizendo:
-Vem cá, tché, mas em que mundo tu vive? Tu tá morrendo pra carregar esse saco de cimento, é?
Até hoje imitamos aquele alemão nas mais variadas circunstâncias. Eu, por exemplo, tenho ímpetos de imitá-lo quando aparecem os progressistas de meia-tigela, os intelectuais de araque, que não sabem da missa a metade, que não fazem a mais vaga ideia do que as pessoas sempre passaram em Porto Alegre e que se surpreendem com o fato de a ascensão fascista dos últimos tempos ter sido amplamente apoiada na capital gaúcha só porque eram aqui que aconteciam as cirandas do Fórum Social Mundial.
-Vem cá, tchê, mas em que mundo tu vive? Tu acha que uma cidade vira fascista da noite pro dia, é?” José Falero @jzfalero , “Mas em que mundo tu vive?”.