2022-08-08 00:06:21
DEPOIS DO PRIMEIRO GRITO
Da primeira vez
que ousou alçar a voz
até me achei importante:
meu nome retumbante
e o teu tom mais voraz
mas não te via assim atroz
Quando repetiu o grito
me trincou os ouvidos
e os meus nervos se exaltaram
e o cristal quebrado
sangrou meu vestido
com a intolerância de suas investidas
Da terceira vez que assim esteve
já não havia mais quatro paredes
pra ocultar o peso dos insultos
tive que pagar tributo
tal qual mera escrava
pra poder ter fala
Da quarta me desfiz do drama
Quis me mudar desse inferno
Pro teu governo, amor eterno
não reverbera destes discursos
De autoridade no cerrar de punhos
Assustada, fugi antes de ir à lona
Na Quinta fui dançar ciranda
fiz samba e outro de fala mansa
me levou à cama sem copo nem gole
me entorpeceu de deixar mole
Meus tímpanos foram atingidos
pelo zumbido de um balbuciar ameno
E este intercedeu postando a voz
me aniquilou na leveza feroz
me atentou em tons menores
e conheceu todas as mulheres
que em mim haviam se escondido
depois do primeiro grito
Alan Salgueiro
Rascunhos de Revolução
16 viewsAlan Salgueiro, 21:06