Get Mystery Box with random crypto!

2. A ira Vamos admitir que a ira é um desejo acompanhado | Teologia, Patrística e História Eclesiástica ⛪️

2. A ira

Vamos admitir que a ira é um desejo acompanhado de dor que nos incita a exercer vingança explícita devido a algum desprezo manifestado contra nós, ou contra pessoas da nossa convivência, sem haver razão para isso. Se a ira é isto, forçoso é que o iracundo se volte sempre contra um determinado indivíduo, por exemplo contra Cléon, mas não contra o homem em geral; e que seja por algum agravo que lhe fizeram ou pretendiam fazer, a ele ou a algum dos seus; além disso, toda ira é acompanhada de certo prazer, resultante da esperança que se tem de uma futura vingança. De fato, existe prazer em pensar que se pode alcançar o que se deseja; mas, como ninguém deseja o que lhe é manifestamente impossível, o irascível deseja o que lhe é possível. Por isso, razão tem o poeta para dizer sobre a ira [1]:

que, muito mais doce do que o mel destilado, cresce nos corações dos homens. [2].

Por isso, há um certo prazer que acompanha a ira, e também porque o homem vive na ideia de vingança, e a representação [3] que então se gera nele inspira-lhe um prazer semelhante ao que se produz nos sonhos.

Notas:

1.
Θυμός “θiˈmɔs”/“Thymós” – “Raiva”
2. Il., 18.109-110.
3. Φαντασία: “representação” ou “imaginação” mais do que propriamente “fantasia” do tipo sensorial ou racional.

ARISTÓTELES, Retórica. Livro II; Cap. 2, §§ 1-2. Pág(s). 85-86
Martins Fontes, Editora. 2020.