2022-07-12 16:14:27
PENSAR POR PALAVRAS
Uma pessoa fala uma coisa, a outra aparentemente fala a mesma coisa e, no final, percebemos que elas estão falando coisas bastante diferentes. Este é o resumo das discussões que testemunhamos por aí.
Isso acontece porque a maioria das palavras que conhecemos são aprendidas antes mesmo de sabermos exatamente a que elas se referem. A partir da educação formal que recebemos, esse problema multiplica-se. Somos inundados com termos e expressões sobre os quais, no máximo, possuímos uma ideia muito vaga e, só depois, e mesmo assim apenas em alguns casos, somos apresentados às realidades referidas por eles.
Durante toda a nossa vida há uma infinidade de palavras que só conhecemos pelos seus símbolos, seus sons e como uma referência distante a algo sobre o qual sabemos muito pouco. Ainda assim, é-nos exigido que manipulemos essas palavras no dia-a-dia, usando-as largamente como se delas fôssemos íntimos.
O que mais existe são pessoas de inteligência normal falando coisas com uma compreensão muito limitada do que dizem. Verbalizam ideias, expressam pensamentos, raciocinam com base em meros sons, mas não são capazes de identificar onde tudo isso se encontra na realidade.
Elas possuem uma referência muito vaga daquilo que dizem, pois estacionaram nos signos. É como se falassem da doçura de uma fruta sem nunca tê-la provado. Se bem que, neste caso, ainda haveria a consciência de estar se referindo a algo que apenas ouviram falar, enquanto em diversas outras situações, principalmente naquelas que tratam de realidades mais abstratas, pelo simples fato de conhecerem a palavra, acreditam que também conhecem aquilo que ela representa.
Vivemos em uma sociedade essencialmente linguística, imersa em palavras, ainda assim, com uma dificuldade terrível de entender o sentido de cada uma delas. Termos como liberdade, amor, democracia, ética, virtudes, coragem, pecado e uma infinidade de outros, sobre os quais se tem alguma ideia a que se referem, são usados abundantemente, mas acompanhados de uma incapacidade extrema de identificá-los na realidade.
Cada um acaba fazendo sua própria interpretação do significado daquilo que diz. Quando discutem, portanto, nada pode garantir que estejam falando sobre a mesma coisa. É bem provável que não. Apesar de usarem as mesmas expressões, é quase certo que cada uma tenha em sua cabeça algo diferente. E se a discussão sobrevive é só porque há uma referência, ainda que diáfana, à realidade.
Pensar por palavras talvez seja o grande defeito das pessoas que participam dos debates intelectuais. Não é por acaso que neles dificilmente se chega a algum consenso. Pelo contrário, o que mais ocorre é o acúmulo de confusão.
193 viewsFabio Blanco, 13:14