2021-09-14 15:48:23
Gota de meditação #22:DIA 14 DE SETEMBROFesta da Exaltação da Santa CruzHoje a liturgia nos conduz a recordar o momento mais dramático da missão de Jesus Cristo: a entrega da sua própria vida na cruz. E Ele não agiu de maneira impulsiva, ou passional, como fez Pedro na noite anterior, para negá-lo logo depois por três vezes. Dizia Jesus, no Evangelho de João: “Para onde eu vou vós não podeis ir” (Jo 13,35). Jesus sabia para onde estava indo, a sua entrega não foi precipitada, ou guiada por alguma emoção passageira. Jesus sabia bem pelo que esperar. Não foi a preço de nada que “seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22,44). Ele seria abandonado pelos seus, injuriado pelo povo, esbofeteado, flagelado, coroado de espinhos e finalmente crucificado.
Que duro desfecho teve a vida do filho do carpinteiro! Ele, que nasceu e veio ao mundo para dar testemunho da verdade (Cf. Jo 18,37), e cuja boca produziu sabedoria (Cf. Pv 10,31), dirigiu a palavra ainda uma última vez ao traidor com a força suprema da mansidão: “Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem”? (Lc 22,48). E conservando o rosto impassível como pedra, não o desviou dos bofetões e das cusparadas (Cf. Is 50,6-7). O que foi feito daquele cujo “nome é como um perfume derramado”? (Cf. Ct 1,3). “Tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem, ou ter aspecto humano” (Is 52,14). Quem seria capaz de tal crueldade, senão a humanidade corrompida pelo pecado? Essa mesma humanidade, que pedia ao Criador “beija-me com os beijos de tua boca” (Ct 1,2), e que, beijada, recobrou sua dignidade pela encarnação do Verbo, agora rejeita o Cristo, beijo de Deus para os homens, desprezando-o como último dos mortais e tapando o rosto diante dele (Cf. Is 53,3).
Diz o livro do Eclesiástico: “Não é um desgosto mortal quando o amigo íntimo se torna inimigo”? (Eclo 37,2). E com este estado de alma, “atormentado pela angústia” (Is 53,8), Jesus recebe o beijo de Judas, que comunica a Ele, o Cordeiro de Deus, as nossas enfermidades, as nossas dores, as nossas culpas e pecados. Retribuímos o beijo da encarnação com o beijo da traição.
E agora? O que será de nós? “Tudo está consumado” (Jo 19,30), disse o Senhor, mas nem tudo está perdido, porque Ele mesmo disse ao Pai: “não perdi nenhum daqueles que me confiaste” (Jo 19,9). É preciso, porém, que nos deixemos morrer com Cristo, precisamos deixar morrer em nós o pecado, a auto-suficiência, a avareza espiritual. Precisamos subir na cruz com Cristo, porque, como dizia Santo Agostinho, “quem não morreu, também não ressuscitou, e ainda vive mal; e se vive mal, não vive. Morra, então, para que não morra (...), converta-se para que não seja condenado” (P.L. 38, 1104ss.).
Caríssimos irmãos e irmãs, não tenhamos medo da dor, não tenhamos medo da angústia, não tenhamos medo da doença, não tenhamos medo, enfim, da cruz. Ao nosso lado está quem nos justifica (Cf. Is 50,8), à nossa frente vai Aquele que, consumando sua vida, tornou-se para nós causa de salvação eterna (Cf. Hb 5,9), dentro de nós vive Aquele que, vencendo a morte, deu sentido à nossa fé (Cf. 1Cor 15,17) e tornou-se razão da nossa esperança.
Telegram: @cister_riopardo
117 views12:48