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'Não vemos interesse do Estado em encontrar Bruno e Dom Philip | Bolivariando a Pátria Grande

"Não vemos interesse do Estado em encontrar Bruno e Dom Philips", dizem indígenas do Javari

https://www.brasildefato.com.br/2022/06/08/nao-vemos-interesse-do-estado-em-encontrar-bruno-e-dom-philips-dizem-indigenas-do-javari

Lideranças ouvidas pelo Brasil de Fato cobram sobrevoo da região e explicam quem são os detidos pelo desaparecimento

As buscas pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips entraram nesta quarta-feira (8) no terceiro dia. Com protagonismo dos povos indígenas, a varredura pelos rios Javari, Itaquaí e Ituí tem participação da Funai, Polícia Federal, Exército e Marinha. Embora três suspeitos de envolvimento tenham sido presos, os recursos empregados pela força-tarefa têm sido apontados como insuficientes para encontrar a dupla, desaparecida desde domingo (5) na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas.

O Brasil de Fato ouviu três lideranças indígenas da região. Sob anonimato, eles apontam omissão na atuação dos órgãos federais. Segundo eles, a vastidão da TI, a segunda maior do Brasil, torna imprescindível o sobrevoo da área. Sem isso, as chances de sucesso na localização diminuem a cada dia, enquanto aumenta a angústia de familiares, amigos e colegas de trabalho de Bruno e Dom.

Segundo divulgou a Marinha, um helicóptero está sendo empregado na operação, além de uma moto aquática. Mas indígenas que percorrem o território com esperança de localizar os desaparecidos afirmam não terem visto o sobrevoo.

“Essas ações que estão tendo aqui [de buscas] não estão sendo de aeronave. Não está sendo utilizado helicóptero. Essa busca ativa está sendo feita pelas embarcações das autoridades e da Univaja [União dos Povos Indígenas do Vale do Javari]”, afirma uma liderança.

Outro indígena concorda com a necessidade da busca aérea: “Deveria ter um helicóptero sobrevoando aquela área onde eles desapareceram. Todas as associações indígenas estão fazendo busca, conforme a nossa sabedoria de rastrear a trilha por onde percorreram, conforme nossa cultura. Temos esperança de encontrá-los com vida”.

Um terceiro indígena diz não acreditar que as buscas darão resultado. "Nós não vemos um interesse deles [autoridades] de botar para valer. Eu vejo que eles, mais uma vez, não vão fazer nada. Mas a gente vai botar pressão para que a gente consiga prender esses indivíduos. Esses malditos, esses bandidos, esses canalhas que ficam eliminando ou excluindo a vida das pessoas”, afirmou.

À reportagem, um habitante da TI diz que o Vale do Javari está entregue aos crimes ambientais, por isso os indígenas montaram estruturas próprias de fiscalização. “É uma área muito grande e eles nunca conseguiram realmente pegar os infratores que invadem as terras indígenas. É só quando tem um desaparecimento como esse, que a força policial sai para fazer busca”, descreveu.

O Ministério da Defesa e a Funai foram procurados pela reportagem, mas não responderam os questionamentos. O espaço segue aberto para manifestações.

Até agora, três pescadores ilegais foram detidos suspeitos de envolvimento no desaparecimento da dupla. Na terça-feira (6), a Polícia Federal (PF) comunicou a prisão de dois homens, um conhecido como “Churrasco” e outro identificado como Jâneo. Segundo as organizações indígenas, ambos foram levados à delegacia de Atalaia do Norte e, na sequência, liberados. Um terceiro suspeito, conhecido como “Pelado”, foi preso na terça-feira (7) na comunidade ribeirinha São Gabriel, no rio Itacoaí. “Pelado” portava munições de uso restrito e drogas, conforme informou à reportagem a Polícia Militar (PM) do Amazonas.

Um indígena que trabalhava ao lado de Bruno Pereira no dia do desaparecimento afirma que “Pelado” e Jâneo haviam ameaçado a equipe de monitoramento, incluindo o indigenista da Funai e o repórter do jornal britânico The Guardian, quando cruzaram caminhos no sábado (4), um dia antes do desaparecimento. “Eles [‘Pelado’ e outro pescador] levantam duas armas dizendo para os indígenas: ‘vocês vão levar tiros’”, relatou ao Brasil de Fato.