2023-06-25 15:52:26
Na 7a ou 8a série toda a classe leu “Os Meninos da Rua Paulo”, do húngaro Ferenc Molnár, traduzido por Paulo Ronai, um dos melhores livros da minha vida. Nossa imaginação foi capturada pelas batalhas entre os dois grupos de meninos da história. Resolvermos criar o nosso próprio “grund”, o quartel-general que os meninos do livro disputavam.
Escolhemos um pedaço quadrado de cimento embaixo de uma das escadas do pátio. Havia espaço para quatro garotos sentados; os dois que ficavam atrás tinham que abaixar a cabeça por causa do teto inclinado. Era ali que passávamos o tempo no recreio, olhando o futebol ou as meninas.
Eram da minha turma Carlos Alberto Ghazi, Ricardo Perácio, Alexandre Arraes, Lelio Gama, Tucci, CG, Luiz Sérgio Canário, Sérgio Conti, Rodolfo, Roberto Lobo, Roberto Aquino Leite, Pedro Colmar, Maurício Campelo Batista, Ruy Rocha Filho, Luis Gallotti, Marc Hoffman, Roberto Palermo, Tulio Guida, Julio Cesar (cujo pai tinha um bar na esquina de uma rua transversal à Voluntários da Pátria), Zaher Zein (o último da chamada), Rodolfo, Diogo Bellotti e muitos outros. A memória agora me trai.
Havia camaradagem, amizade, brigas, viagens à casa de Corrêas, batalhas na rua Dona Mariana contra os garotos de colégios vizinhos e, acima de tudo, a expectativa de iniciação em um mundo adulto que ainda não compreendíamos. Os times de futebol eram Cobras e Lagartos; os melhores jogadores tiravam par ou ímpar e iam escolhendo os jogadores. Eu nunca era escolhido. Nunca aprendi a jogar bola.
Isso foi em 1975 ou 1976. Hoje o Santo Inácio foi totalmente reformado, mas o espaço do grund ainda está lá, como um monumento ao efêmero da vida e à persistência da memória. Viva Os Meninos da Rua Paulo. Viva os garotos do Santo Inácio.
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