TELEGRAM E O JOGO DE GATO E RATO (Ou Tom é sempre o vilão - e | Renan Santos MBL

TELEGRAM E O JOGO DE GATO E RATO
(Ou Tom é sempre o vilão - e perde no final)

O TELEGRAM soltou uma nota alertando seus usuários sobre os riscos da PEC da Censura. A nota, condizente com a gravidade do projeto, foi segura e precisa. É natural que a plataforma converse com seus usuários sobre temas concernentes a sua experiência, e a nota não deveria chocar democrata algum.

Pois é. Mas estamos no país do Felipe Neto.

A histeria foi automática. Menino Ishpertinho e sua turma já declararam que a nota é “fake news” (não refutaram ponto algum) e qualificaram a atitude do Telegram como “criminosa”. O ridículo Senador Randolfe, com seus pulinhos e gritinhos, já saiu a público exigindo medidas contra a plataforma. Eis aí o problema.

O STF, Dino e cia se desgastaram demais com a perseguição ao Google na última semana. No lance da “coroação/corrupção”, então, viraram chacota. A antecipação dos efeitos do PL2630 — a censura pura e simples — foi sentida pela população, e colaborou para sua derrota inicial.

Agora que é o Telegram a se manifestar, as autoridades restam desafiadas. Vão permitir tamanha insolência? Ou vão, na mão grande, censurar a plataforma? Não é uma decisão fácil, e no exato instante que redijo esse textão, parlamentares de esquerda e juristas conversam sobre a validade de alguma ação contra o mensageiro russo.

O estresse decorrente da indecisão é apenas um gostinho que aguarda a Suprema Corte diante dos desafios que estão se impondo. A censura nunca é um fato dado, uma régua de corte que, de supetão, suprime discursos indesejados. Ela é, antes de tudo, um processo. E como processo, pressupõe fatos sequentes, reações e adaptações. Imaginando calar dissidentes, vão construir, na verdade, um jogo de gato e rato, cansativo, frustrante, amarrado. Um jogo que tende sempre para o lado do perseguido — ainda mais quando o ofensor depende de um intrincado arranjo de poder para se manter ativo.

Em última instância, o sistema organizado está cavando um novo 2013. Os efeitos da sua atuação irão atingir muito mais gente que o pretendido inicialmente. Eles deveriam saber disso (há gente inteligente por lá), mas a volúpia por poder e controle, o desejo de brecar um processo histórico que lhes trouxe tanto medo, os levará direto para mais uma crise.

Tempos atribulados nos aguardam, galera. É bom se preparar.

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