2022-03-01 02:25:52
Julian Assange se definha na prisão por denunciar crimes dos EUA | Carta semanal 8 (2022)https://thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/cartasemanal-julian-assange-alerta-vermelho/
Queridos amigos e amigas,
Saudações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.
Há vinte anos, em 11 de janeiro de 2002, o governo dos Estados Unidos levou seus primeiros “detentos” sequestrados durante a chamada Guerra ao Terror para sua prisão militar em Guantánamo. O secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse: “planejamos, em geral, tratá-los de maneira razoavelmente consistente com as Convenções de Genebra”. Em geral. As evidências começaram a surgir quase imediatamente – inclusive por parte do Comitê Internacional da Cruz Vermelha – de que as Convenções de Genebra estavam sendo violadas e que muitos dos prisioneiros estavam sendo torturados. Em dezembro de 2002, a mídia estadunidense começou a noticiar que “muitos detidos em Guantánamo [provavelmente não eram] terroristas”.
Quase 780 “detentos” foram jogados na prisão nas últimas duas décadas; atualmente 39 homens permanecem, a maioria dos quais nunca foi acusado. Embora o presidente dos EUA, Joe Biden, tenha dito que queria fechar o campo de detenção, ele, de fato, autorizou planos para expandi-lo. O governo Biden está gastando 4 milhões de dólares para construir um novo tribunal secreto nas instalações, que será fechado ao público. Ainda não se sabe se os prisioneiros restantes serão julgados e terão seus destinos decididos. Em 10 de janeiro de 2022, especialistas independentes do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas descobriram que “a Baía de Guantánamo é um local de notoriedade sem paralelo, definido pelo uso sistemático de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes contra centenas de homens trazidos para o local e privados dos seus direitos mais fundamentais”.
Um desses homens, Sami al-Hajj, foi detido por tropas paquistanesas na fronteira Afeganistão-Paquistão em 15 de dezembro de 2001 e depois entregue aos EUA em 6 de janeiro de 2002. Al-Hajj foi então transferido para Guantánamo em 14 de junho de 2002, onde permaneceu até sua libertação para Doha, Catar, em 31 de maio de 2008. O governo dos EUA acusou al-Hajj de ser membro da Al-Qaeda, bem como parte da liderança tanto do Talibã quanto da Irmandade Muçulmana. Ele também foi acusado de fornecer armas e fundos a grupos na Chechênia por meio da instituição de caridade saudita al-Haramain.
Conhecemos esses detalhes sobre al-Hajj graças aos Informes de Avaliação de Detentos (Detainee Assessment Briefs – DABs) vazados para a mídia via WikiLeaks em abril de 2011. Esses Arquivos Gitmo são notáveis porque cada um dos DABs nos mostra a desinformação na base da Guerra ao Terror. Uma leitura atenta do informe de al-Hajj mostra que ele não era líder de nenhuma dessas organizações; ele era, na verdade, um jornalista da Al Jazeera. Al-Hajj começou a trabalhar para a Al Jazeera no início de 2000 e foi enviado ao Afeganistão em outubro de 2001 para trabalhar com seus colegas Yusuf al-Sholy e Saddah Abdul Haq. Não havia evidências de que al-Hajj fosse membro da Al-Qaeda, do Taleban ou da Irmandade Muçulmana. De acordo com o DAB, ele foi levado a Guantánamo para dar informações sobre o programa de treinamento da Al Jazeera, bem como sobre vários grupos de caridade que operavam no Azerbaijão, Kosovo e Macedônia.
Em 2007, o advogado de al-Hajj, Clive Stafford Smith, escreveu que seu cliente estava “em greve de fome há mais de 230 dias, tempo três vezes maior que os grevistas do IRA em 1980”. Quando al-Hajj chegou a Doha, ele disse que havia sido interrogado 130 vezes, “principalmente em relação ao seu trabalho com a Al Jazeera”.
Os DABs ajudaram advogados como Stafford Smith a descobrir quem estava atrás da cerca em Guantánamo e que mentiras estavam sendo contadas sobre eles. Graças ao WikiLeaks, esta informação foi tornada pública. Nenhum responsável pelos crimes em Guantánamo foi julgado pelo “uso sistemático de tortura”, como observaram especialistas em direitos humanos.
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