2022-09-24 20:25:33
É sempre importante reafirmar os princípios fundamentais: a ideologia hegemônica hoje é o liberalismo pós-moderno, transmutação derradeira do liberalismo triunfante como perfeita encarnação da modernidade. Fascismo e comunismo estão mortos.
Os horrores e abominações do mundo contemporâneo não são fruto de qualquer acidente de percurso do liberalismo, senão a concretização final de seus fundamentos, já implícitos nos nominalistas, em Descartes e em Kant.
Ademais, nunca é demais lembrar que por "liberalismo" se está designando uma cosmovisão total que atribui centralidade ao indivíduo. Liberalismo econômico, liberalismo moral, etc., são apenas aplicações de uma mesma filosofia liberal.
Essa filosofia liberal afirma que o indivíduo precede a comunidade, que o ser desse indivíduo é anterior e independente a seus pertencimentos e vínculos comunitários. Raça, etnia, sexo, língua, religião, cultura, família são características acidentais e não determinam o homem. O indivíduo é um átomo racional, abstratamente igual e universal.
A rebelião do liberalismo contra a Tradição começa pela religião, com o subjetivismo na interpretação dos textos sagrados e o questionamento da hierarquia eclesiástica. Mas mesmo esse princípio é indissociável de uma antropologia cartesiana que cinde sujeito e objeto, mente-alma e corpo.
O liberalismo avança no campo político rejeitado a autoridade tradicional como opressora, destruindo a comunidade e substituindo-a pela sociedade, um construto mecânico contratualista, fundado no mito do contrato social como acordo racional entre indivíduos livres em que direitos subjetivos são limitados em prol da preservação da vida e da liberdade.
A própria noção liberal de liberdade é uma invenção. A liberdade é tomada em sua concepção "negativa" como ausência de limites ao indivíduo, em contradição com a concepção tradicional de liberdade como a posse da capacidade de agir em conformidade com o próprio desígnio dentro de uma comunidade.
O liberalismo econômico parte da destruição do sistema de guildas da comunidade tradicional, já que as guildas limitavam a prática das profissões, fixavam preços e impunham várias normas e regras ao exercício profissional. Sob a forma do capitalismo, ele promove a acumulação irrestrita de capital e o dinheiro como fim em si mesmo, legitimando a usura, a expropriação infinita, a extração de mais-valia.
Eventualmente se torna necessário falar em liberdade sexual, que começa pela desfeminização da mulher, transformada em arremedo de homem, a ser julgada e pensada segundo parâmetros masculinos e, por isso, deve ser lançada no mercado de trabalho para reduzir a média salarial e iniciar a desintegração da comunidade familiar. Essa liberdade sexual continua sua progressão até a generalização do divórcio e o amor livre, tudo dirigido para a dissolução da família.
Também é implícito no liberalismo a desintegração dos Estados imperiais para a formação de Estados-nações, que promovem a desetnicização dos seus grupos étnicos internos para forçar uma homogenização fictícia para fazer emergir o cidadão abstrato. Mais tardiamente, Estados-nações grandes começam a ser fraturados em Estados-nações menores enquanto se transfere prerrogativas de soberania para estruturas transnacionais.
Com a passagem da modernidade para a pós-modernidade, o próprio indivíduo é visto como limitação opressora e passa a poder ser desconstruído por meio da ideologia de gênero e do transumanismo.
A finalidade de todos esses processos, o Fim da História de Fukuyama, é a construção de uma sociedade global sem fronteiras, sem limitações para o fluxo de pessoas, mercadorias e capital, com uma humanidade massificada reduzida a multidões nomádicas de partículas desconstruídas. É a Paz Perpétua de Kant.
Isso é o liberalismo e seu desenvolvimento do final da Idade Média até os dias de hoje. Esse é o inimigo. O resto é ilusão.
2.0K viewsOzzie Pena, 17:25
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