2022-07-24 02:39:11
De modo intencional ou não, Friedrich Nietzsche é frequentemente distorcido, quer por académicos de certo pendor liberal, quer por outras “personalidades” de visão antagónica. Ambos tentam-se apropriar e reinterpretar (i.e. subverter) a sua filosofia — intelectualmente desonestos ou simples produtos do actual
zeitgeist modernista, todos eles estão pouco interessados em levar este filósofo demasiado a sério, mesmo perante aquilo que foi literalmente escrito.
Invariavelmente, Nietzsche é-nos apresentado (de modo errado) como um “filósofo contra-iluminista” que “afastou a possibilidade de uma verdade objectiva”, traduzida pela máxima (forjada e repetida
ad nauseam) “não há factos, apenas interpretações”. Segundo estes “estudiosos”, foi Nietzsche que abriu o caminho do chamado “perspectivismo” (aqui “perspectivismo rima com “relativismo” e “progressismo”), onde deixa de haver uma realidade objectiva e factual, mas apenas interpretações subjectivas do mundo. Além disto, com a “morte de Deus”, é também incriminado de ter contribuído para a queda de “valores estabelecidos” e de ter “destruído a tradição”.
Assim, segundo essa brevíssima interpretação, somos levados a crer que Nietzsche — que diagnosticou e antecipou um longo período de niilismo europeu, subjacente ao progresso de uma moral anti-aristocrática e decadente — é ele próprio um niilista (i.e. um igualitarista, um decadente).
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