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O desafio da autoria Na última pílula, analisamos um texto | Se bem me lembro - Olimpíada de Língua Portuguesa

O desafio da autoria

Na última pílula, analisamos um texto de memórias literárias para mostrar como estudantes do Ensino Fundamental II podem adaptar a linguagem do outro na retextualização de uma entrevista. Hoje, damos um passo além para refletir sobre o que é a autoria em memórias literárias. Destacamos um trecho da biografia Viver para contar, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, ao falar sobre o cenário em que passou seus primeiros anos de vida:

“Até a adolescência, a memória tem mais interesse no futuro que no passado, e por isso minhas lembranças da cidadezinha ainda não estavam idealizadas pela nostalgia. Eu me lembrava de como ela era: um bom lugar para se viver, onde todo mundo conhecia todo mundo, na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam num leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos.”

Vamos ler agora um texto finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa de 2019, de Isadora Herschaft Cardoso, do município de Itapiranga (Santa Catarina):

“Toda vez que alguém bate na minha porta, lembro-me daquela gélida noite em que perdi meu chão, meu norte e a outra metade de mim. Sou de ascendência alemã e, junto com meus pais, instalei-me na antiga Porto Novo com meus pais no ano de 1928. Contava com apenas 6 anos de idade. Lembro-me de quando chegamos aqui nessa terra desvirginada por corajosos loucos que se aventuravam em meio ao mato e aqui vieram semear o seu futuro. Foi aqui que empobrecemos.”

Ao comparar os dois trechos acima, qual são as semelhanças? Ora! Ambos falam sobre lembranças do passado, vividas na infância do narrador, em primeira pessoa.

Quais são as diferenças? O primeiro foi escrito pela pessoa que vivenciou essas memórias, o que não quer dizer que tudo tenha sido exatamente como ele conta, mas que o autor apresenta sua perspectiva sobre a paisagem em que cresceu. No segundo texto, Isadora reconta a história de Catharina Thiel, à época com 97 anos. Há, portanto, uma separação entre narradora e autora. Isadora teve o desafio não apenas de transcrever a fala ouvida, mas de associá-la às suas habilidades para criar um texto literário.

Eis o desafio da escrita de memórias literárias quando chegamos à reta final do processo: garantir fidelidade à história narrada e à figura que a conta mas, ao mesmo tempo, estimular a expressão estética desses jovens escritores.

Leia gratuitamente um trecho do livro Viver para contar.

Para aprofundar-se na discussão sobre as vozes do texto em Memórias Literárias, (re)visite a Oficina 14 – Como num filme, do Caderno Docente Se bem me lembro, produzido pela Olimpíada de Língua Portuguesa.

Saiba mais sobre a 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa.