2022-08-26 03:05:07
Beatriz só tinha um trabalho: escolher um maiô que eu pudesse usar na piscina durante a confraternização dos alunos do oitavo ano. Mas a regra era não escandalizar alguma mãe ou pai e fazer eu ser demitida no processo.
Inocentemente esperei me deparar com um maiô comportado, que cobrisse o máximo possível de pele, mas fui ingênua demais por confiar tarefa tão importante à minha melhor amiga e também colega de trabalho.
— Ainda não te perdoei — resmunguei enquanto ela trancava o carro com um risinho sem-vergonha. Aquela safada não estava nada arrependida.
— Letícia, eu fiz um favor pra você — respondeu divertida, agitando a chave do carro na mão. — Esqueceu que o pai da Madu vai estar aqui hoje? Aquele pedaço de mau caminho só tem olhos pra você. É uma ótima chance de sair daqui e dar pra ele.
— Isso deve ser coisa da sua cabeça, sua boba. Só por ser um pai solteiro ele estaria a fim de mim? — retruquei, sem acreditar muito nas minhas próprias palavras, e continuei a andar.
Estávamos em um clube perto do Lago Paranoá, a mãe de Laurinha era sócia dali e havia reservado duas churrasqueiras para fazermos a confraternização de final de ano da turma. E eu, como professora conselheira, estava mais do que convidada para participar. Porém, não ser fã de atividades com água acabou sendo um problema quanto ao que vestir para entrar na piscina.
E bom, o biquíni vermelho minúsculo que Beatriz arranjara estava fora de cogitação, já que eu havia descoberto uma bunda que nem sabia ter ao vesti-lo.
— Vocês ainda vão se pegar com esse tanto de tesão acumulado e vou falar um “eu te avisei” muito feliz por você finalmente sair da seca — insistiu Beatriz com um sorriso, subitamente parando, dando um tchauzinho e indo para outra direção.
Quis questionar o porquê de ela ter ido embora e me deixado no meio do caminho, mas a resposta veio de trás de mim poucos segundos depois.
— Não sabia que você usava vestido, Letícia. — A voz rouca fez surgir um arrepio gostoso, que começou no meu pescoço e desceu pelas costas. Um pensamento atravessou minha mente: e se ele soubesse o que eu vestia por baixo do meu vestido?
Virei para Rodolfo com meu melhor sorriso. Eu me fazia de durona com Beatriz, mas no fundo também desconfiava, na verdade tinha certeza, de que ele estava a fim de mim. Afinal, você não olha para qualquer pessoa como se quisesse comê-la se não sentir o mínimo de atração. E os olhos dele, um pouco mais altos pela nossa diferença de altura, naquele momento expressavam uma ferocidade que só poderia significar sexo. E daqueles que toda mulher deveria experimentar pelo menos uma vez na vida.
— Pois é, é mais fácil lidar com adolescentes usando calça jeans e tênis, posso te garantir — respondi e abracei meu corpo, ciente de que meu decote ficaria mais evidente. — Mas o que tá aqui embaixo também é bem interessante, pode ter certeza disso.
Ele coçou a barba e me devolveu um sorriso sacana. O cabelo preto estava levemente bagunçado, contribuindo pro visual casual que consistia numa camisa azul e uma bermuda preta. Reparei quando ele colocou a mão no bolso, como quem tentava disfarçar uma ereção. Animada, me preparei para ouvir uma resposta brincalhona como sempre — lê-se últimos meses, desde que o vi pela primeira vez em uma reunião de pais e descobri que Madu tinha um pai além do padrasto, que morava em outro estado e que se mudara para Brasília —, mas Rodolfo apenas olhou brevemente ao redor e se aproximou do meu ouvido:
— Talvez seja hora da gente parar com esses joguinhos, professora. Já passamos tempo demais nisso aqui, não? Acho que já sabemos o que cada um quer — sussurrou, o calor de sua respiração fazendo cócegas no meu ouvido.
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